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Da Série: De onde você veio, Menina? E o seu amigo, o Sábio?

O post desta noite de estrelas é dedicado a minha mãe, que me inspirou a escrevê-lo com seu jeito de Mama orgulhosa e, por isso, sorridente, pois, quem não se sentirá melhor depois de ler alguma coisa a noite?, enquanto está deitado na cama, esperando o sono chegar? Não que isso aconteça muito... O sono chegar, quero dizer. Porque uma boa leitura pode despertar as mentes mais cansadas. Ela pode, na verdade, acender a mente e mantê-la assim durante toda a noite e também ao decorrer de toda a madrugada, enquanto a noite troca de turno com o dia.

A Menina e O Sábio – O Nascer do Dia



O Sábio saiu de casa para caminhar. O mar era lindo àquela hora da manhã e a areia ainda não queimava os pés. Por isso, ele decidiu que molhar os pés era uma boa ideia para começar o dia.
- Sabe, Doce Menina, me admira a beleza que tem o mar... – Começou o Sábio. A Menina ainda não chegara, mas ele sabia, ele sentia que ela viria.
- É bem bonito mesmo. – A Menina respondeu, andando ao seu lado. O Sábio sorriu. – Você enxerga além? – Perguntou ela animada. O vento não puxava seus cabelos para longe da água, fazendo-a sorrir. No entanto, a Menina não poderia sentir o sal do mar em seus pés. Não poderia molhar sua roupa ou seus cabelos. Nem lavar o rosto. Ela imaginava como seria incrível sentir o sal incomodar os olhos. Era inexplicável como ela não sabia que sentiria saudade de certas coisas. – Nunca pensei que sentiria falta disso. – Falou a Menina para si mesma. O Sábio não escutou. Estava encantado com a imensidão do mar. – Você enxerga além? – Perguntou ela mais uma vez.
- Se enxergo além? Além do horizonte? – Quis saber seu Grande Amigo. A Menina riu.
- Não. – respondeu ela, tirando fios de cabelos dos seus olhos. - O que você enxerga ao observar o mar?
- O mar? – Ele pensou o tempo necessário para respirar duas, no máximo, três vezes. – Vejo o último suspiro do vento sobre o oceano antes de viajar para outros ares. Vejo o passado indo embora para mais longe de onde aconteceu. Vejo pequenas partículas de poeira que flutuam sobre essas águas sendo levadas pelo vento.  Vejo a calmaria da superfície, acalmando corações acelerados... - Respondeu o Sábio. Ele até então não sabia que enxergava tudo aquilo. - E você? O que enxerga, minha Pequena Grande Amiga? – Perguntou o Sábio, curioso.
- Eu? – A Menina abriu um sorriso de orelha a orelha. Ela fechou os olhos e parou de andar por todo o tempo que transbordou suas percepções. A Menina deixou-se sentir - Vejo a confusão da vida encoberta pela água. Vejo a mistura do colorido das espécies no trânsito das correntes marinhas. Vejo amizades inesperadas ocorrendo embaixo da água. Vejo mais do que posso descrever, mais do que as palavras podem alcançar. Vejo o caos de a vida acontecer. – A Menina abriu os olhos e tudo parou por um momento. Parou para que ela pudesse sorrir. Parou para que pudesse finalmente respirar depois de preencher seu coração com tudo aquilo que fazia parte de um tempo distante. Parou para que ela pudesse se sentir viva novamente.
- Doce Menina, você está chorando? – Surpresa, a Menina tocou suas bochechas com as mãos, sentindo-se mais feliz do que se sentia há muito tempo.
- Acho que estou feliz. – respondeu ela. – Calmaria e confusão. O mar é realmente poético. – O Sábio riu e assentiu.
- Ele certamente é. – O Sábio então tentou molhar a Menina, sem sucesso. Ela não estava ali, no final do dia. Mas, a Menina não se entristeceu, ela gargalhou, juntando-se ao Sábio na tentativa de molhar um ao outro. 

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