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Mostrando postagens de junho, 2015

Um olhar, um adeus

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. Alegria sabia de uma coisa, sabia que o olhar dizia muito quando as palavras não falavam. Não só o olhar. Ele podia ser acompanhado pelo descompasso de alguns passos, de jeitos e trejeitos. E se as palavras não faltassem, elas carregavam um tom diferente, de hesitação, de deslocamento, de incerteza. Elas traziam a esperança escondida que o coração tentava, sem sucesso, esconder. E, se o ímpeto não transbordasse, a menina sabia que seria tarde de mais. O jeito era dizer adeus, mesmo que por uma ínfima fração de tempo no tempo. Ela percebia, desde cedo, que as pessoas estavam acostumadas a falar com palavras sem vida um "adeus" sem valor, mesmo que todo conjunto escrevesse no ar uma pergunta secreta, mais tarde não dita: "então, o que vamos fazer agora?". 

Silêncio ensurdecer. Barulho silencioso

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. Em uma madrugada silenciosa do som das vozes das pessoas, Alegria escutava o barulho dos carros, traçando um caminho conhecido ou, às vezes, até mesmo imprevisível (resultado do ímpeto daqueles que precisavam de novas paisagens, novos congestionamentos); dos ônibus que naquele dia repetiam (como era esperado) o itinerário de seus antigos ou não tão velhos dias; das motos, que pareciam, ora desafiar o vento, ora juntar-se a ele em uma velocidade quase tão rápida quanto a de um coração apaixonado; de seu ventilador, que assim como o ônibus, não se atrevia nunca a sair de sua rota, trabalhando sempre naquele mesmo movimento circular programado; e, por último, o eco de seus pensamentos, que nesta madrugada já ensolarada, pensava apenas nas palavras e na desesperança que as inúmeras junções de várias frases, orações e parágrafos depois provocavam. E, apesar do silêncio ensurdecedor de outras vozes vindo do lado de fora, do lado de dentro, em

Da Série: De onde você veio, Menina? E o seu amigo,o Sábio?

Dedicado ao meu Professor Gilberto, que junto a Kenia e Maria Betania, tornou possível a divulgação do primeiro conto de "A Menina & O Sábio".  A Menina & o Sábio – Memórias de duas vidas Todos aqueles que ali estavam presentes dez minutos atrás, agora se faziam ausentes. Apenas o Sábio permanecia onde estava desde o fim da tarde. Ele se despedia do seu neto mais jovem uma última vez, dizendo palavras que a Menina não podia escutar. Sabendo que aquele era um momento particular, ela permaneceu afastada, observando o Sábio de longe. Ele beijou a ponta dos dedos da mão esquerda e deu dois toquinhos na lápide. O epitáfio dizia “mais do que as palavras ou as estrelas podem dizer”. Quando virou, o Sábio, mesmo longe, conseguiu avistar a Menina. Alívio passou pelos seus olhos, hoje tristes. Ele enxugou as lágrimas com o lenço que trazia no paletó e se dirigiu a Menina. - Oi, Doce Menina! Acho que você já soube das últimas notícias. – Disse o Sábio meio sem graça

Da Série: De onde você veio, Menina? E o seu amigo, o Sábio?

O post desta noite de estrelas é dedicado a minha mãe, que me inspirou a escrevê-lo com seu jeito de Mama orgulhosa e, por isso, sorridente, pois, quem não se sentirá melhor depois de ler alguma coisa a noite?, enquanto está deitado na cama, esperando o sono chegar? Não que isso aconteça muito... O sono chegar, quero dizer. Porque uma boa leitura pode despertar as mentes mais cansadas. Ela pode, na verdade, acender a mente e mantê-la assim durante toda a noite e também ao decorrer de toda a madrugada, enquanto a noite troca de turno com o dia. A Menina e O Sábio – O Nascer do Dia O Sábio saiu de casa para caminhar. O mar era lindo àquela hora da manhã e a areia ainda não queimava os pés. Por isso, ele decidiu que molhar os pés era uma boa ideia para começar o dia. - Sabe, Doce Menina, me admira a beleza que tem o mar... – Começou o Sábio. A Menina ainda não chegara, mas ele sabia, ele sentia que ela viria. - É bem bonito mesmo. – A Menina respondeu, andando ao seu lado

E o Vento levou... Homem dos Shampoos? É você?

E o post de hoje é dedicado ao meu outro avô, que podia ser secretamente Papai Noel, pois deixava escapar um ressonante "HoHoHoHo" em casa ou em qualquer lugar que fosse. Como podia ser uma celebridade (identidade também secreta, mas, nesse caso, só pelos arredores de São Bento do Una), pois a cidade inteira conhecia o Cadete da buzina irreverente, que emitia sons de incontáveis animais ao chegar em um lugar diferente e desconhecido. Ele podia ser também, só para os Leitores Curiosos terem uma ideia mais completa da Figura, um disfarçado inventor do futuro que, sem querer, veio parar no presente, agora passado. Todo dia, a menina conversava com o Vento. Ele sempre lhe parecera um bom ouvinte. As vezes, ela tinha a impressão de que   mesmo de longe, ele a entenderia. Em alguns momentos, o Vento estava revoltado, balançava as folhas, levando embora algumas e se despedindo de outras, deixando as árvores rumo à rua, aos rios e aos carros, como se entendesse o que a menina queri

Era uma vez...O Início

O texto a seguir conta um pouco de como surgiu o blog "A Menina e o Sábio". P.S.: O post de hoje é dedicado ao meu melhor amigo, Danillo e a minha amiga de infância, Carol , que ao saberem do Blog, disseram de forma animada (bem, foi assim que eu imaginei quando li as mensagens escritas no Instagram e no What's App) que iriam acompanhá-lo todos os dias (ou sempre que possível).  Agora sim, divirtam-se ou não! O  Sábio  Silêncio  No silêncio de um dia sem vida, ora acompanhada pela luz vermelha de um refúgio secreto, anotando parâmetros de outras vidas, ora perdendo tempo em uma cama improvisada de três cadeiras altas e confortáveis, Alegria foi invadida pela ideia do Sábio Silêncio. Ele sugeriu, sussurrando sem dizer, que a dor, hoje parcialmente cicatrizada, de anos vividos sem vida e cor, poderia fazer de suas lágrimas, inspiração para os desesperançosos, que não mais acreditavam que o sol voltaria a nascer ou que a lua viria a ser cheia e luminosa para a noite

A Lua e as Estrelas

Para todos aqueles que, assim como a Menina, apreciam olhar pro Céu A menina conversava diariamente com o céu, mais especificamente, com a lua e com as suas companheiras, as estrelas. Ela imaginava alguém em seu lugar. E, por isso, conseguia dizer em voz alta, tudo aquilo que mantinha escondido dentro de si. A menina sabia que esse alguém não a escutaria, mas, mesmo assim, continuava, em quase toda oportunidade, abrindo seus segredos à lua e as estrelas. Se ninguém a ouvira, ela podia, pelo menos, rir de si mesma. A menina se achava boba por isso, mas aprendera que momentos assim, de uma solidão não só, a esperança sentava ao seu lado e fazia o mundo ao seu redor ser clareado por uma luzinha crescente. E isso a fazia forte, a fazia pensar que os caminhos futuros seriam mais belos, ladeados por árvores com troncos completos por musgos (sua flora preferida) e com flores ricas em cores e vida, como a cana-da-índia, o lírio e a acácia-amarela.

Companhia silenciosa

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. Alegria chorava em um banco solitário numa rua deserta de pessoas, mas ladeada pelo colorido das flores e das árvores. O céu estava azul e contrastava com o branco das nuvens. Ela olhava para cima, tentando entender o porquê daqueles dias. Queria ficar sozinha, ao mesmo tempo em que suas lágrimas suplicavam por ajuda. Ela já não olhava para o céu quando alguém sentara ao seu lado. Alegria soubera no instante quem seria, mas permanecera calada, com a cabeça baixa e as mãos no rosto. E durante todo o tempo em que Alegria permanecia inerte, o Sábio Avô contemplava o horizonte em silêncio, segurando a mão dela. Quando Alegria levantou os olhos e olhou naqueles olhos cheios de preocupação, ela deixou o Sábio Avô aproximar-se e foi abraçada. Os dois permaneceram assim por um longo tempo, sem dizer uma sílaba, uma palavra, enquanto os olhos da Alegria expulsavam toda dor e desespero que sentia naquele dia ensolarado. E na companhia silenciosa

Palavras não ditas ao vento

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. Alegria sabia que as palavras tinham força. Ela escutava em pensamentos as mesmas junções de sílabas escritas dias atrás. Não importava se elas não tinham sido ditas ao vento, porque a memória trazia nas lembranças vozes conhecidas e reais. E Alegria revivia todos os dias, as palavras mais difíceis que tivera que escutar em um longo tempo. Ela não queria ter vivido aquele momento, mas sabia que era necessário. Se não fosse numa quinta, seria em outro dia da semana. Talvez, fosse até mais doloroso se demorasse um pouco mais, porque o tempo pode ser bem esperançoso 

De onde você veio, Menina? E o seu amigo, o Sábio?

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. É outra Menina e outro Sábio. Dedicado ao meu "abuelito" (avozinho) amado, Zacarias Cavalcanti, que no brilho de seus olhos, me incentiva em toda troca de olhar a continuar colorindo com o lápis, páginas ansiosas por novos segredos.   “A Menina e o Sábio” Sentada na grama, observando o lago, a menina perguntou ao sábio o que a água tinha de tão especial. - Me diga você – Respondeu o sábio. A menina sorriu, olhou para o sábio e depois para o lago. - Não sei... A água me lembra vida e a falta dela me faz pensar na morte. – Ela esperou até que o sábio falasse. Só demorou um pouco. - Interessante – Ponderou o sábio. A menina sorriu. – A água quando falta, não leva apenas a água. Ela leva a vida. A Seca seca a vida. Olhe nos olhos de uma pessoa sem água e você verá a seca no olhar dela. - Espero que não seque quem vive fora dela. – O sábio olhou para menina, confuso. - Fora da seca, quero dizer. A voz de fora poder

A Chuva

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. Alegria ouviu dizer que a chuva deixava tudo mais bonito. Certa vez, ela olhou para o céu e pôde ver os pinguinhos caindo, traçando sua trajetória não retilínea até a rua (o vento e as folhas estavam lá para guiá-los). Alegria caminhava nesse dia de chuva enquanto pedacinhos do céu caiam em suas roupas. Ela esperava que cada gota pudesse levar consigo um pouquinho daquilo que pesava em sua alma. Ela queria acreditar que essa era uma das funções da chuva, a mais bela de todas

A função da arte

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. Dedicado ao meu pai que, com certeza, tem um pouco de Gregory House em si. A Sabedoria disse para Alegria uma vez que a arte tinha a função de preencher os vazios deixados pela vida. E Alegria sabia que a sabedoria não podia estar mais certa, porque para ela, a arte era a esperança em forma, cor e som. Ela via na ficção tudo que não conseguia enxergar na própria vida. Acreditava que o futuro poderia ser colorido e que as marchinhas de carnaval poderiam ser mais do que temas recorrentes em sua trilha sonora. Ela assistia House, segundo o pai, porque, se para cada novo caso impossível do hospital, o médico mais rabugento da história enxergava o diagnóstico e salvava a vida do iminente moribundo, talvez para a vida dela também houvesse um Gregory House. Alegria não percebia, mas era a arte que a fazia forte, que não a deixava desistir. Mas, ela logo descobriria. Infelizmente, da pior maneira possível.

A desesperança

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. E de tanto levar esperança para os outros, Alegria ficou sem nenhuma para si. Ela preencheu o coração com o vazio da solidão e os pensamentos com melodias tristes e letras melancólicas cantadas pelos sons de outras vozes. Quem dera a Alegria soubesse o caminho de volta ao porto seguro, onde ninguém se atreve a pôr os pés no mar ou abrir asas e voar. Infelizmente, Alegria perdeu as instruções de volta e tudo o que ela sabia, até então, desmoronou em uma batida de seu coração. Alegria procura agora um lugar para sentar e chorar. Se ela não encontra, a opção é caminhar sem direção para que as lágrimas expulsem de seu coração um pouco do que o torna frágil e quebradiço. Mas, apesar disso, Alegria sabe que não se sentirá melhor por um tempo. Seu coração está cheio de dor e de saudade. Não de uma saudade qualquer, da saudade que sentia antes da inevitável reviravolta. Mas nada pode salvar o que se foi e aquela saudade, ela não a terá. Não. Nun