E o post de hoje é dedicado ao meu outro avô, que podia ser secretamente Papai Noel, pois deixava escapar um ressonante "HoHoHoHo" em casa ou em qualquer lugar que fosse. Como podia ser uma celebridade (identidade também secreta, mas, nesse caso, só pelos arredores de São Bento do Una), pois a cidade inteira conhecia o Cadete da buzina irreverente, que emitia sons de incontáveis animais ao chegar em um lugar diferente e desconhecido. Ele podia ser também, só para os Leitores Curiosos terem uma ideia mais completa da Figura, um disfarçado inventor do futuro que, sem querer, veio parar no presente, agora passado.
Todo dia, a menina conversava com o Vento. Ele sempre lhe parecera um bom ouvinte. As vezes, ela tinha a impressão de que mesmo de longe, ele a entenderia. Em alguns momentos, o Vento estava revoltado, balançava as folhas, levando embora algumas e se despedindo de outras, deixando as árvores rumo à rua, aos rios e aos carros, como se entendesse o que a menina queria dizer e reagisse a sua maneira as palavras dela. Outras, ele estava mais calmo, como se pensasse no que fazer a seguir ou apenas estivesse com preguiça de seguir seu caminho. Talvez até, ele estivesse se escondendo da menina ou, possivelmente, muito longe dela para fazer-lhe companhia, ou, porventura muito pelo contrário, talvez ele estivesse ao lado dela, calado, esperando que ela lhe contasse uma história nova, sendo ela triste ou feliz. Ele não se importava com o ânimo da narrativa. Quando as palavras ditas em voz alta, a faziam chorar, o vento estando perto, saia da inércia e enxugava suas lágrimas. Se longe, ele balançava timidamente o ar para fazê-la acreditar, que mesmo ocupado, estava atento, ouvindo sua história e entendendo sua dor. Ela era grata a ele. Ele era seu amigo. Mas, o vento não só secava as lágrimas da menina, ele levava embora consigo parte da tristeza sentida por ela. E, apesar de não se sentir inteira novamente em uma batida de seu coração, ela se sentia em processo de resiliência... Logo, logo, a menina estaria pronta para uma nova reviravolta, quiça até, inteira para uma reviravolta ainda mais inesperada. E, assim como se sentia com a Lua e suas companheiras da noite, as Estrelas, ela se achava uma boba ao pensar no Vento como mais do que uma "simples" diferença de pressão entre dois pontos do globo. Ela provavelmente poderia ser rotulada assim mesmo, mas quem disse que o Vento não pode ser alguém de algum lugar, reagindo às palavras e ações dela? De um lugar invisível aos olhos? Quem disse que o Vento não pode ser seu Herói de Infância, o Homem dos Shampoos, que a tinha deixado alguns anos atrás? Ela não sabia com certeza, mas acreditava nisso do mesmo jeito que acreditava na mais bela função da chuva.
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