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Da Série: de onde você veio menina? E o seu amigo, o Sábio?


A Menina e o Sábio – As folhas das árvores”

O Sábio admirava o pôr do sol quando a Menina apareceu ao seu lado. Já fazia um bom tempo que ele estava sentado no banco do píer com seus pensamentos e o aroma do mar que o vento espalhava. O Sábio não precisou olhar para Menina para saber que era ela. Apenas sua Grande Amiga sabia onde encontrá-lo.
- O pôr do sol é muito bonito daqui. – Comentou a Menina ainda de pé. Ela fez a volta e sentou-se no espaço vazio, ao seu lado. Como sempre, a Menina ajeitou seu vestido, deixando-o perfeito. Não que ele já não estivesse.
- Dizem que não há mais bonito em 100 km. – Falou ele, orgulhoso da cidade onde morava.
- 100 km? Só isso? – A Menina pareceu surpresa - Soube pelo vento que se você observar o mar da nossa cidade de qualquer ângulo – Ela olhava para a linha do horizonte -... Perceberá que 100 km não estão minimamente próximos da verdade.
- Não vou discutir com o vento. Ele certamente é mais Sábio que o Sábio mais Sábio. – A Menina riu, achando divertida a forma como o Sábio pôs as palavras em ordem.
- Ele certamente é. – Concordou ela, olhando para o amigo pela primeira vez. - Ele já viajou muito. Sabe dos segredos deixados pela poeira do passado.
- O vento é um colecionador de histórias?
- O vento tem mais histórias guardadas a sete chaves do que é possível contar. – “Mais do que é possível descrever”, pensou o Sábio. Ele olhou para o Céu e em voz alta comentou para aquela imensidão azul, que ultrapassava os limites de um quadro.
- Quantas histórias, meu amigo...! – A Menina sorriu. – Será que as histórias felizes estão em maior número? – Perguntou o Sábio a Menina, voltando a observar a calmaria do mar.
- Quem sabe?
- O céu? – Ponderou o Sábio.
- Acho que ele já perdeu as contas. – A Menina cruzou os pés na altura do tornozelo, deixando o tênis laranja visível aos olhos do Sábio. Alguma coisa na cor o incomodava. Laranja não era sua cor preferida, mas também não era sua preterida. Era a cor do pôr do sol que ele amava, mas, ao mesmo tempo, era a cor do suco que ele não gostava. No entanto, antes que ele pudesse descobrir o porquê do incômodo, a Menina voltou a falar: - Seria uma perda de tempo contabilizar as emoções das situações. Ter mais ou menos dias felizes faria de você um Sábio mais feliz? – O Sábio ponderou por um par de minutos antes de responder sem dúvida alguma:
- Certamente não. – A Menina sorriu.
- A árvore do Parque Central... – Ela se interrompeu por dois segundos até voltar a falar – Não sei se uma laranjeira ou um limoeiro – Mais uma interrupção. – Laranjeira – Decidiu-se ela - Não conta as folhas que perde. Se contasse, ela perderia a energia compartilhada pelo sol para novas folhas em folhas que já não podem ser recuperadas. – O Sábio sorriu.
- Doce Menina, você é uma menina bem peculiar, sabia? – Afirmou o Sábio antes de acrescentar uma interrogação a sentença.
- “Peculiar” é meu nome do meio. – Brincou a Menina.
Então, os dois passaram os minutos seguintes contemplando o encontro do mar com o sol. Era lindo. Era único. Como diria a Doce Menina do Sábio, era poético.

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