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A Menino e o Senhorzinho

Dedicado a Amandis e a José Waldo. O texto agora é mais feliz.


Na cidade onde a Menina morava, o Senhorzinho da Praça era conhecido pelo seu bom-humor e sua boa música. Todo final de tarde, ele afinava seu violão e, em um fusca azul (Azulão), seguia para a Praça Central, onde sentava em um banquinho, hoje desgastado pelo tempo, e tocava as músicas de sua juventude. Um ou outro fazia um pedido, dedicando a canção a alguém querido, mas no geral, o Senhorzinho escolhia o repertório. Era sempre a maior alegria. De uns tempos para cá, ele percebia que sempre as 17:45, a Menina passava conversando com alguém, alguém que ele não podia ver. Ela olhava para cima, às vezes sorrindo, às vezes chorando e sozinha mantinha a conversa agitada. Alguns diziam que a Menina era louca, outros que ela conversava com pessoas que já não estavam mais aqui, tinham ainda aqueles que achavam que ela não falava sozinha, mas sim cantava para os males espantar. Nenhuma das alternativas agradava o Senhorzinho. Ele sabia que ela não era doida. Sentia também que não era com pessoas de outras épocas com quem ela conversava. Não achava também que ela cantava, porque seu ouvido de músico dizia que não. Apesar disso, vê-la conversar com o vento, com o tempo ou com quem quer que seja, o fazia sorrir. Certo dia, depois do almoço, quando voltava a pé do trabalho, ele encontrou a Menina parada na Ponte dos encontros, olhando o céu. Ela sorria. Ele sorriu.
- Menina Bonita, com quem você tanto conversa? - Perguntou ele, curioso e sorridente.
- Com o céu - Respondeu a Menina sem tirar os olhos daquela imensidão azul e branca. O senhorzinho juntou-se a ela e, ao seu lado, passou a admirar o Céu. A Menina sorriu. - Vou contar um segredo - Começou a Menina. O Senhorzinho sorriu - O Céu é fonte inesgotável de esperança. Até em dias nublados. Acho que principalmente em dias nublados. 
- Verdade? - Ela assentiu. - Acho que vou cantar para o Céu hoje à noite. Quem sabe assim, eu entendo melhor o que você está dizendo.

- Quem sabe... - Os dois permaneceram ali, em silêncio, por mais alguns longos minutos. O Senhorzinho começava a sentir o que a Menina sentia quando conversava com ele. Porque se o céu é infinito, por que as oportunidades e possibilidades debaixo dele também não são?

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