Hoje, não trago um conto da história de "A Menina e o sábio"! É mais um desabafo sobre as desaventuras que vivo por conta do TOC. Espero que gostem.
P.S.: sujeito a alterações!
Ao longo desses ± quinze
anos convivendo com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), eu desenvolvi
muitos comportamentos compulsivos como forma de neutralizar as “consequências”
dos meus pensamentos obsessivos [não vale à pena! Fazer todos e cada um desses
rituais só fortaleceu as famigeradas (não sei se essa é a palavra mais adequada
para descrever o que quero dizer) “manias” ou, como meu pai gosta de dizer, as
“milongas”]. No entanto, com o tempo, aprendi a dar a volta na minha mente
criativa para tornar as coisas mais fáceis (bem, provavelmente, não é a melhor
saída, mas, pelo menos, eu me sinto menos sufocada fazendo isso). A mais famosa
é a classificação da “poluição pelos fluidos negativos” em níveis (do zero ao
três). Ela se aplica as dependências da minha casa.
O único ambiente nível
zero é metade do meu quarto. Para ser mais específica, apenas a minha cama e
parte do meu guarda-roupa estão nessa classe! E o que isso quer dizer? Que só consigo
usá-los quando estiver despoluída. É nesse ambiente que me sinto mais segura e
confortável e, por ser meu porto-seguro, apenas eu posso usá-lo. Nenhuma
visita, nenhuma pessoa que vive comigo está autorizado a mexer nesse meu cantinho
especial sem minha devida autorização... E isso, às vezes, é um problema! Quando
minhas amigas vêm para minha casa, por exemplo, eu tenho que cobrir toda a
minha cama com uma colcha e guardar todos os meus ursinhos pelúcia que ficam em
cima dela para que eles não sejam poluídos. Mas não acaba por aí! Depois que
elas vão para casa, troco o lençol, as fronhas, passo pano no baú, que fica
atrás da minha cama, e nas gavetas, e borrifo água na parede que serve de apoio
para as costas! Além disso, existe uma mesinha de cabeceira ao lado (geralmente
usada pelos meus amigos para colocar pratinho com doces e copo com
refrigerante). Ela também é “purificada” para não representar risco na hora de
dormir. Pois é, viver com TOC só é engraçado para aqueles roteiristas que nunca
conviveram com alguém que luta contra esse transtorno todos os dias há muitos e
muitos anos.
Com relação à outra
metade do meu quarto, ela está classificada como nível um. Mais uma vez: o que
isso quer dizer? Que existe poluição nesta área, mas ela não representa risco
elevado para mim. Nesse lado do quarto, estão meu computador, meus livros e
alguns CDs e DVDs, meus acessórios (bolsas, brincos, colares, pulseiras,
fivelas), meus jogos de tabuleiro, etc. O birô, eu sempre uso bastante na hora
de estudar, principalmente agora que me preparo para concursos públicos. Também
gosto de utilizá-lo para assistir a séries, novelas, filmes e k-dramas no meu
computador nessas inúmeras plataformas de streaming que existem hoje em dia.
Apesar de ser uma região poluída, apenas eu posso usá-la (na maioria das vezes)!
Ou seja, toda vez que tenho um problema no PC e preciso da ajuda do meu irmão
bípede (o melhor irmão do mundo) para consertar alguma besteira que fiz
(afinal, eu sou péssima quando se trata de tecnologia), tenho que dar permissão
para que ele possa procurar e reparar o erro. Quando acha o problema e o
resolve, eu uso meu “purificador” (é assim que gosto de chamar meu borrifador
de água) para despoluir tudo o que ele tocou e, então, voltar a usar minha
cadeira e minhas coisas sem receio. Então seu irmão e as demais pessoas estão
em um nível superior ao primeiro? Sim! E é disso que irei falar a seguir!
Geralmente, a maioria
das pessoas é nível dois (ou três, dependendo do caso)! Ou seja, elas
representam um “risco” maior para mim (sei que parece – e deve – ser ridículo,
mas foi a maneira que encontrei de ficar em mais lugares do que antes)! Não só
as pessoas estão nesta classe, os quartos dos meus pais e do meu irmão são nível
dois, algumas cadeiras da cozinha e as poltronas da sala também são lugares, na
maioria da vezes, proibido para mim. Se utilizo algum desses aposentos/objetos,
não consigo usar nada meu sem lavar as mãos. Por exemplo, às vezes, estou tão
cansada de estudar que não tenho energia para tomar banho e deitar na minha
cama. Por isso, peço a minha mãe para descansar um pouco na dela. Como boa mãe,
ela sempre deixa (apesar de achar ruim, porque eu bagunço tudo). Quando acordo,
e se quiser voltar a estudar (porque sempre há algo a mais para estudar/revisar),
tenho que tomar banho para poder utilizar meu computador e as outras coisas que
estão classificadas como nível 1... E não para por aí, ao terminar a meta de
estudo do dia, para finalmente descansar e dormir, tomo banho novamente – mesmo
que tenha feito isso menos de duas horas antes –, porque só assim consigo deitar
na minha cama.
Por fim, o último
nível, o três, é o terror dos terrores. Tudo aquilo que fica exatamente em
frente da TV enquadra-se nesse nível. Aqui em casa, apenas o sofá da sala
atinge essa classificação que me causa pavor. Infelizmente, a TV não fica acima
do nível do sofá (não está fixada na parede). Muito pelo contrário! Por isso,
eu NUNCA sento no sofá da sala e, sempre que alguém daqui de casa assiste à
televisão enquanto uma notícia ruim está sendo transmitida, eu nunca toco na
pessoa em questão. Na verdade, se eu receber um abraço dela, imediatamente a
seguir, eu vou ao banheiro para me “despoluir”! Para ser sincera, eu sempre me “purifico”
depois de abraçar alguém quando esse alguém está nos níveis dois ou três de
poluição. Só não o faço quando EU também estou nessa zona de classificação, o
que raramente acontece. Eu poderia falar de mais algumas coisas relacionadas a
esses níveis de poluição, mas acho que o que está escrito é suficiente para fazê-los
sentir o que eu passo todos os dias. É extremamente ansiogênico! Será que um
dia me livrarei dessas manias ou será que conviverei com elas até o final da vida?
Ainda não tenho a resposta! Só vivendo saberei!
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