O conto de hoje é, de certa forma, uma homenagem a minha Diva Pop preferida de todos os tempos: Hannah Montana. Portanto, qualquer semelhança com a realidade é totalmente intencional (hahahahaha). As duas músicas que não foram parafraseadas na história são "Butterfly fly away" e "You can always faind your way back home".
P.S.: existe uma homenagem por trás da data escolhida como cenário para o conto (coincidentemente ou não, a publicação do conto caiu exatamento no dia escolhido para a história).
P.S.2: agradeço a minha mãezinha por ter cedido a foto de Fernando de Noronha para que eu pudesse usá-la como imagem de pano de fundo para a frase escolhida.
P.S.3: no final do conto, coloquei a foto da minha coleção de CDs e DVDs de Hannah Montana, que guardo até hoje.
08 de Julho de 2013 (Terça-feira)
Os sonhos que invadem
uma noite de sono podem traduzir diferentes tipos de sentimento, como, por
exemplo: alegria, tristeza, raiva e medo. Alguns não fazem o menor sentido para
a maioria das pessoas, outros refletem algum evento passado ou podem desenhar
um futuro muito desejado por alguém. A maioria deles é esquecida com o passar
do tempo, enquanto outros permanecem na memória afetiva de quem o experienciou
por muitos anos. Seu Haroldo, Avô de Lívia, sempre dizia para a Neta que
existiam sonhos que não eram apenas sonhos. Quando ela pedia para que ele
explicasse melhor, ele dizia: “Esses sonhos permitem que nós nos encontremos
com aqueles que já se foram. Eles geralmente aparecem quando precisamos muito
de alguém que já não está mais aqui”. Menos de dois meses depois do acidente de
carro, Francisco reencontrou Lívia em um desses sonhos. Nele, o Menino estava
descalço em uma praia desconhecida. Ele usava uma calça branca e uma camisa
branca folgada. Alguns metros à frente, havia uma garota, também descalça, que
observava o mar. Ela usava um vestido branco e o cabelo loiro claro estava
parcialmente preso com uma fita também branca. Antes que Francisco pudesse
dizer alguma coisa, Lívia deu meia-volta e ficou de frente para ele. A Menina
sorria. Os olhos do Menino se encheram de lágrimas. Depois de um breve momento
de inércia, Francisco correu em direção a Lívia. O Menino abraçou a Menina com
força, sendo correspondido por ela. Ao senti-lo ali tão perto, os olhos da
Menina se encheram de lágrimas e aqueles pinguinhos fizeram caminho pelas
bochechas quando ela fechou os olhos para absorver aquele momento por completo.
O abraço durou o tempo necessário para consolar um tiquinho de dois corações
despedaçados pela partida repentina. Ao se afastarem, Lívia e Francisco se
olharam nos olhos durante um momento inesquecível. Então, o Menino segurou o
rosto da Menina entre as mãos e deu um beijo demorado na Namorada, sendo novamente
correspondido por ela. Os minutos se passaram lentamente para permitir que os
dois diminuíssem a saudade profunda que sentiam um do outro, saudade de um amor
que vinha de outras vidas. Quando o tempo acabou e, no instante em que os dois
estavam imersos um no olhar do outro novamente, as mãos agora entrelaçadas mais
ou menos na altura da cintura, Lívia perguntou enquanto lágrimas teimosas
insistiam em transbordar:
– Sentiu minha falta? – A voz da Menina
estava embargada.
– Muita, muita, muita, três pontinhos...
– Respondeu o Menino, com a voz carregada de um sentimento que não cabia apenas
dentro do peito. A Menina sorriu ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Ela voltou
no tempo e reviveu o dia em que o Menino a pediu em namoro.
– Nos três pontinhos cabe o infinito. –
Era a vez de o Menino sorrir um sorriso misturado a muitas lágrimas.
– Eu amo tanto você, meu amor! – Disse
Francisco.
– Eu amo tanto você, meu amor! – Disse
Lívia. Com as mãos ainda entrelaçadas, a Menina enxugou as lágrimas de
Francisco com as costas de uma das mãos. Ele fez o mesmo com as lágrimas dela. –
Que tal uma caminhada à beira-mar com os pés dentro da água? – A Menina
perguntou enquanto puxava o Menino em direção ao mar. Ele a acompanhou sem
hesitar. Lívia então soltou uma das mãos de Francisco para que os dois andassem
lado a lado. Durante algum tempo, a Menina e o Menino ficaram em silêncio. Eles
aproveitaram aqueles minutinhos para sentirem a presença um do outro, para absorverem
aquela paisagem que mais parecia saída de um álbum de fotografia. Aos
pouquinhos, o coração do Menino ganhava um pouco de cor e era preenchido por um
sentimento tão bom que ele torcia para que aquele sonho nunca acabasse.
Francisco estava curioso para saber o que Lívia tinha a dizer. Ela sempre o
surpreendia. Como se soubesse o que o Menino estava pensando, a Menina disse: –
Você se lembra da minha Diva Pop preferida de todos os tempos? – Francisco riu
daquela pergunta. Esse não era um dos rumos que ele imaginara para aquela
conversa.
– Hannah Montana? – A resposta do Menino
arrancou um sorriso da Menina. Um sorriso genuíno, que chegava aos olhos.
– Ela mesma. Ninguém chega ou chegará
aos pés dela. – O Menino riu mais uma vez. – Hannah Montana tem muitas músicas
incríveis e inesquecíveis, e quatro delas trazem trechos que traduzem muito bem
o que eu quero te dizer, o que eu quero que você escute com o coração (mesmo
que alguns deles se sobreponham, sejam repetitivos). – A Menina fez uma pausa.
– Não sei se você sabe, mas as letras das músicas, às vezes, expressam de
maneira mais precisa aquilo que o coração quer transbordar através de palavras.
– Francisco parou a caminhada, ficou de frente para Lívia e voltou a entrelaçar
as mãos que ficaram livres ao começarem a caminhar. O Menino queria ouvir as
palavras da Namorada olhando-a nos olhos. Antes, no entanto, ele fez uma
confissão:
– Eu tenho escutado Hanna Montana com
frequência nos últimos tempos. – A Menina sabia daquilo, mas ficou feliz ao
ouvir aquela pequena confidência.
– Todas as minhas sete músicas
preferidas?
– Todas elas. Fiz até uma playlist especial só para colocar suas sete
músicas favoritas da sua Diva Pop preferida.
– Muito bem. Não fez mais do que a sua
obrigação. – O Menino riu. Como recompensa, a Menina deu uma série de beijos
rápidos no Namorado, fazendo-o sorrir entre um beijo e outro. Depois daquele
momento de descontração, Lívia voltou a falar: – Meu amor, escuta com todo o
seu coração o que eu tenho a dizer! – O Menino assentiu. Ele sentiu que as
palavras que viriam seriam difíceis de ouvir. Francisco tentou ser forte, mas
seus olhos se encheram de lágrimas, antecipando o futuro em alguns segundos. –
Uma das músicas de Hannah Montana diz, não necessariamente com essas palavras e
não necessariamente com esse propósito, de não deixar de viver o futuro para
ficar no passado. – A Menina fez uma pausa. Ela citava a passagem de “Love that
let’s go” que canta:
“Doesn't
wanna miss the future
By
staying in the past
It
will always hold on
But
never hold you back”
– Meu amor, eu não
quero que você deixe de viver o presente, de sonhar com o futuro para
permanecer no nosso passado. – Dizer todas e cada uma daquelas palavras doía
muito na Menina, mas ela sabia que, parafraseando essa mesma música, esse
capítulo da vida dos dois tinha chegado ao final. – Você precisa seguir em
frente, mesmo que seja difícil, mesmo que você não esteja pronto para isso... –
Dessa vez, o trecho ao qual a Menina se referia falava:
“But
now one more chapter's gone by, and I know
It's
time to move on
Even
though I'm not ready
I've
got to be strong
And
trust where you're heading
Even
though it's not easy
Right
now the right kind of love
Is
a love that let's go”
– Mas eu não quero seguir em frente sem
você, meu amor! – A dor que os dois sentiam era transformada em muitas, muitas
lágrimas.
– Mas você não seguirá em frente sem
mim, porque eu estou e sempre estarei com você, mesmo não estando fisicamente
ao seu lado. – A Menina enxugou as lágrimas que faziam caminho pelas bochechas
do Menino mais uma vez. – Sei que não é um oceano que nos separa, mas pode ter
certeza que eu sempre enviarei uma mensagem nos momentos que você mais precisar
de mim. – Agora a Menina citava “Been here all along”:
“You’re
still there for me, wherever that might be
And if an ocean lies between us
I'll send a message across the sea
That you can sleep tonight, knowing it's alright
(…)
You’re with me
‘Cause you're with me, you've been here all along
You've been here all along”
– Pode ser uma mensagem através de uma
passagem do livro que você estiver lendo nas horas de descanso. – Continuou a
Menina. – Pode ser através de uma música que tocar em uma cafeteria numa tarde preguiçosa
de domingo. Pode ser um recado através da chuva que cair em um momento
inesperado... – A Menina fez uma pausa. A dor que sentia fazia o simples ato de
respirar ser difícil. – Lembre-se que eu sempre estive e sempre estarei ao seu
lado. – O Menino soluçava. A dor era lancinante. – Eu sei que, no momento,
parece que essa angústia durará para sempre, como quase todas as músicas sobre
um amor verdadeiro nos fazem acreditar, mas, na verdade, a maioria dessas
canções, para a maioria das pessoas, traduz apenas a sensação de infinitude que
um momento passageiro parece ter. – A Menina fez mais uma pausa. Ver o Menino
daquele jeito, tão frágil (tão vulnerável) era insuportável. Lívia queria poder
estancar aquele ferimento que o coração de Francisco carregava imediatamente,
mas, infelizmente, só o tempo poderia ajudar aquele machucado a cicatrizar. Quando
voltou a falar, depois de reunir toda a coragem que tinha dentro de si, a
Menina trouxe uma história antiga para a conversa. Ela achava que aquelas
palavras poderiam ajudar o Namorado: – Uma vez Vovô Hamburgo me disse que seguir em frente
não significa, necessariamente, esquecer aquilo que foi vivido, aquilo que foi
construído ao longo dos anos. Significa, apenas, continuar trilhando o nosso
caminho sem apagar os momentos que vivemos ao lado de alguém especial.
Significa aceitá-los como parte da nossa trajetória sem, no entanto, deixá-los
interferir no nosso presente e no nosso futuro. – Ouvir a Menina falar
do Avô fez o Menino pensar em todas as coisas (todas as lições) que a Namorada
tinha aprendido tão cedo na vida com os avós. – Eu sou tão agradecida ao
destino e ao acaso por todos os momentos que compartilhamos nesses anos que
vivemos um ao lado do outro. Sou tão feliz por tudo o que construímos juntos. Tenho
tanta sorte de tê-lo conhecido, ou melhor, tenho tanta sorte de tê-lo
reencontrado nesta vida. – A Menina fazia
referência ao trecho de “I’ll always remember you” que canta:
“I'm
so thankful for the moments
So glad I got to know you”
– Todo o tempo que compartilhamos, eu
vou mantê-lo no meu baú de memórias, no meu álbum de fotografias inesquecíveis
e inclassificáveis. Você é e sempre será parte de mim, sempre estará em meu
coração. – Era a vez de o Menino citar a canção de Hannah Montana. Ele
finalmente conseguiu reunir força suficiente para dar voz as palavras. – Eu
prometo a você, meu amor, que eu nunca te esquecerei. Eu sempre me lembrarei
até de seus pequenos e inúteis detalhes, porque, mesmo que o nosso capítulo
tenha acabado cedo demais e mesmo que nós não possamos voltar ao passado
fisicamente, nós sempre estaremos nas folhas do meu livro, e eu sempre poderei
revisitar nossos momentos em meus pensamentos, em meus sonhos. – A Menina
sorriu ao ouvir aquelas palavras tão lindas, que faziam referência aos versos
da música que diziam:
“The times that we had I'll keep like a photograph
And hold you in my heart forever
I'll always remember you
(…)
Another chapter in the book
Can't go back but you can look
And there we are on every page
Memories I'll
always save”
– São muitos momentos para revisitarmos
sempre que quisermos, sempre que sentirmos saudade. – Disse a Menina
sentindo-se um pouco aliviada por ter deixado incontáveis lembranças para o
Menino e para aqueles que a amam e que sempre a amarão.
– Que sorte a nossa! – Disse o Menino. –
E pode ter certeza que eu revisitarei todos os dias que tivemos a oportunidade
de desfrutar na companhia um do outro, sejam eles bons ou ruins. Todos os
lugares que conhecemos, todos os sabores que experimentamos, todas as canções
que descobrimos juntos, todas as cartas e mensagens que trocamos, todos os
presentes que compramos em datas especiais ou não, todas as discussões que
tivemos (bestas ou não), todas as nossas primeiras vezes: tudo isso tocou a
minha vida profundamente e eu faço questão de levar cada um desses pedaços de
nós dois comigo aonde quer que eu vá. – Continuou o Menino parafraseando o
trecho que diz:
“Every day that we had
All the good, all the bad
I'll keep them here inside
All the times that we shared
Every place, everywhere
You
touched my life”
– Você realmente tem escutado bastante
minha Diva Pop preferida. – O Menino sorriu.
– Através dessas canções, eu me sinto
mais perto de você. – A Menina enxugou mais algumas lágrimas que transbordavam
pelos olhos do Menino com as costas da mão. – Sabe qual é meu trecho preferido?
Ou seria melhor dizer versos favoritos de estrofes diferentes? – A Menina
perguntou qual era sem precisar usar palavras. O Menino cantou meio sem graça a
sua música preferida de Hannah Montana, “Wherever I go”:
“We
might be apart but I hope you always know
You'll
be with me wherever I go
Wherever
I go
(...)
And
I know your heart is with me
(...)
A
song to sing out loud we'll never fade away
I
know I'll miss you but we'll meet again someday
We'll never fade away”
– Eu gosto especialmente desses últimos
versos, porque eu sei que a gente se reencontrará algum dia, porque eu estarei
a sua procura em todas as nossas vidas que virão. Eu conhecerei todos os países
que forem necessários, não importa quantos sejam; aprenderei todos os idiomas
que precisar para ter a oportunidade de compartilhar a vida contigo novamente.
– A Menina sorriu genuinamente.
– Eu amo tanto você, meu amor! – Disse
Lívia.
– Eu amo tanto você, meu amor! – Disse
Francisco. Nesse momento, um trovão ecoou pelo Céu e anunciou a chegada da
chuva. A Menina e o Menino olharam para cima para observar os pinguinhos
caindo. Depois, eles fecharam os olhos e sentiram aquelas gotas de água caindo
e molhando tudo neles e tudo o que havia ao redor. Parecia uma forma especial
de recarregar a energia e renovar a esperança. Um presente do Céu para a
Menina, que tanto amava a chuva.
– Sabe o que essa chuva me trouxe? –
Perguntou o Menino, ainda de olhos fechados.
– O quê? – A Menina deixou de se
concentrar nas gotículas de água que molhavam seu rosto e seu corpo de lado e
olhou para o Menino. Um instante depois, ele fez o mesmo e reencontrou aquele
olhar assustadoramente claro da Menina, o olhar que ele tanto amava.
– Você me disse uma vez que os meus
sonhos também eram seus sonhos. Você me contou que me ver realizar todos e cada
um deles sempre te deixava e te deixaria feliz. – Naquele momento, a Menina foi
transportada para aquela conversa de muitos meses atrás. – Lembra-se disso? –
Lívia assentiu.
– Como eu poderia esquecer? – Francisco
sorriu. – No final do dia, você disse que os sonhos já não eram mais só meus ou
só seus; eram nossos.
– Nossos. Sempre nossos. – O Menino
disse aquelas palavras mais para si mesmo do que para a Menina. – Eu prometo que,
como diz Hannah Montana em “The climb”, continuarei em movimento,
continuarei dando um passo a mais em direção ao futuro, continuarei tentando
realizar todos os nossos sonhos. – O Menino fez uma breve pausa. Era difícil
para Francisco dizer aquelas palavras por saber o tanto que seria doloroso
viver a vida sem Lívia fisicamente. A Menina respeitou aquele momento de
incerteza que o Menino sentia (dúvida de se seria capaz de cumprir aquilo que
prometia). – Eu prometo que manterei a esperança viva, mesmo quando tudo
parecer perdido e sem direção, mesmo quando minha fé estremecer. Eu prometo
para você, meu amor, que não deixarei as dificuldades me derrubarem. Na
verdade, eu sei que cairei em alguns momentos, mas eu acho que conseguirei
levantar com a sua ajuda e com o suporte da nossa família e dos nossos amigos. –
A Menina sorriu ao ouvir o Menino parafrasear os versos dessa canção tão linda que
diziam:
“Every step I'm taking
Every
move I make feels
Lost
with no direction
My
faith is shaking
But
I, I gotta keep trying
Gotta
keep my head held high
(…)
The
struggles I'm facing
The
chances I'm taking
Sometimes
might knock me down, but
No,
I'm not breaking
(…)
Keep on moving, keep climbing
Keep
the faith”
– Promete? – Perguntou a Menina.
– Prometo! – Respondeu o Menino.
– Uma promessa só é válida quando selada
com o dedo mindinho. – O Menino riu, fazendo a Menina sorrir. O Menino soltou a
mão da Menina para fazer o que ela pedia. Sentindo que aquele sonho estava
chegando ao fim, Francisco beijou Lívia uma última vez. Foi um beijo demorado
debaixo da chuva, igual ao primeiro beijo dos dois, mais de cinco anos antes.
Depois daquele reencontro
inesperado preparado pelo destino, o Menino voltou a se dedicar aos estudos.
Ele voltou a seguir em frente sem, no entanto, deixar a Menina para trás (sem jamais
esquecê-la).
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