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Livraria e T.O.C.

O texto a seguir não faz parte da história da Menina e do Sábio. É mais um desabafo sobre alguém que convive com o Transtorno Obsessivo Compulsivo há quase 15 anos. 



Eu amo ler e poucas coisas são tão maravilhosas quanto ir à livraria. No entanto, frequentar esse paraíso literário é um problema para mim. Enquanto outras pessoas passeiam pelos corredores de livros à procura de um título específico ou buscam alguma joia rara desconhecida no meio daquelas muitas estantes, eu ando com angústia por meio daquele amontoado de palavras. Fui, algumas semanas atrás, com meu irmão, comprar o presente de aniversário do nosso pai em uma livraria aqui perto de casa. A minha ideia era a seguinte: eu ficaria na parte “segura” do estabelecimento e ele procuraria alguma obra interessante para darmos de presente. No início, segui o plano à risca. Entretanto, como não parecia certo fazer isso, entrei na “zona proibida”, aquela área da livraria em que muitas palavras horríveis estão expostas nas capas e lombadas dos livros. Alguns até têm fotos terríveis na frente, só para dificultarem ainda mais a visita à livraria. Deixe-me explicar melhor para você que nunca leu um desabafo meu sobre o T.O.C.: certas palavras do nosso vocabulário, certos nomes históricos (e fotografias desses nomes históricos) me causam pavor. Coloquei na cabeça que a exposição a esses nomes, a essas imagens emitem um “fluido” negativo que me transformarão em uma pessoa horrível, uma pessoa capaz de fazer mal aos outros. Por esse motivo, sempre que possível, tento evitar esse tipo de aventura. No entanto, quando preciso encarar esse desafio, enfrento com muita angústia e ansiedade. Não foi diferente no dia em que meu irmão e eu fomos às compras. Assim que entrei na “zona proibida”, deparei-me com um gatilho do meu T.O.C. Não falarei aqui o que exatamente tinha escrito no livro, porque eu simplesmente não consigo escrever essas palavras. Ou seja, eu me “poluí” assim que dei o meu primeiro passo para fora da minha zona de conforto. Para piorar a situação, decidimos comprar livros de não ficção que abordam fatos históricos, porque é o tipo de leitura que meu pai mais gosta (uma pitada de crueldade a mais da vida, não é mesmo?). Enquanto procurávamos, a quantidade de livros “poluidores” que encontrei não era para amadores. Que sensação horrível eu senti durante todo o tempo que estive naquele lugar! É assim todas as vezes que frequento uma livraria. Meus olhos simplesmente não conseguem parar de procurar por nomes horríveis, porque eu preciso ter certeza se fui exposta ou não a essas palavras e imagens proibidas que tanto me atormentam há quase quinze anos. Fico me perguntando como deve ser a sensação de folhear vários livros ao parar entre todas aquelas estantes sem se preocupar com as “consequências” dos “fluidos negativos”! Deve ser tão incrível (como faz muito tempo que experienciei esse tipo de sensação, não me lembro bem como é)! Pergunto-me se um dia voltarei a sentir isso, porque, por enquanto, todas as minhas visitas à livraria são seguidas de banho para despoluir o corpo e a alma! E não para por aí... Nas vezes que compro um livro que tanto quero, preciso passar álcool em todo ele para “purificá-lo” (isso porque não sei qual o percurso do livro escolhido desde a editora até as estantes literárias). É extremamente exaustivo não poder desfrutar de um passeio ao meu lugar preferido por estar refém de pensamentos obsessivos e de comportamentos compulsivos... Espero um dia superar essa fase para poder finalmente encarar a próxima! Que não esteja tão distante esse dia!

Comentários

Anônimo disse…
Lindo e forte desabafo
Chaconerrilla disse…
Muito obgd, anônimo! Sempre fico muito feliz com esse feedback! Você fez meu dia!

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