Ao longo dos anos escrevi muitas cartas e, várias delas, eu nunca entreguei. E, provavelmente, nunca entregarei. No entanto, queria deixar esses sentimentos registrados em algum lugar, porque eu sempre esqueço onde salvo os documentos do word com os meus textos. Por isso, decidi publicá-las aqui. Espero que gostem!
Carta 1 (2018.1)
Destinatário,
Tentei dizer várias vezes – talvez, não em palavras – o que eu sempre achei que fosse transparente: Eu gosto de você! Gosto muito! E não entendo bem o porquê... Eu sei que é tarde para expressar em voz alta, ou através de uma carta, mas achei que deveria dizer – por mim e pelo menos uma vez - o que eu senti todo esse tempo em silêncio... Aparentemente, para deixar pra trás e seguir em frente é necessário admitir para e por si mesmo o que está dentro. Do lado de fora é mais fácil encontrar outro caminho.
Com carinho,
Remetente!
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Carta 2 (2018.2)
Destinatário,
Eu só preciso dizer uma única vez. Falar
uma vez só em voz alta ou em palavras escritas numa folha de papel é
suficiente. Talvez assim, pondo para fora o que guardo aqui dentro do peito, o
sentimento se dissipe em uma mistura
dos seus significados – primeiro se espalhe
para depois se desfazer:
Eu gosto de você. Gosto sem querer.
Gosto mais do que deveria. Gosto mais do que gostaria...
Não sei no que eu estava pensando
quando ultrapassei a fronteira que separa os diferentes tipos de gostar. Ou,
talvez, eu não tenha pensado – e, quando me dei conta, já gostava de você...
Pronto! É isso!
...E agora? O que faço? Nunca fui
muito corajosa quando o assunto é sentimentos. Por isso, não sei exatamente o
que fazer depois de admitir para e por mim mesma o que sinto por você. Porque
sim, eu sei que você não sabe e não quer se apaixonar, que você não me enxerga
dessa maneira... Sei também, como você mesmo disse uma vez, que não está nos
seus planos iminentes nem naqueles de um futuro próximo fazê-lo. No entanto,
sei que preciso parar o ponteiro do relógio desse sentimento, porque mesmo que
um poeta brasileiro diga que “se faz sentir faz sentido”, nem tudo que faz
sentido faz bem ao espírito. Na verdade, até pode fazer bem, mas quando se
manifesta dentro do peito, em situações como essa, deixa de ter sentido. Não
sei se fez sentido para você, mas, para mim, se encaixa perfeitamente no meu
modo, talvez, um tanto estranho – para os outros, claro! – de pôr em palavras...
Será que eu devo me desculpar por
sentir o que sinto? Ou dizer que foi uma aventura, às avessas, estranhamente
feliz, gostar de você? Não sei! Não entendo muito desse tipo de sentimento,
apesar de já ter experimentado...
Seja feliz! Seja feliz sempre
que possível e quando não for, desejo que você tenha a quem recorrer. Não sei
se isso soou como um adeus, mas também não faço ideia de se estou me despedindo
ou dizendo até logo. Como não sei, prefiro não me despedir nem esperar o tempo
resolver dentro de mim esse sentimento... (Bem não sei que adjetivo usar para
defini-lo).
Com carinho,
Remetente.
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Carta 4 (2021)
Destinatário,
Esta é a última carta que escrevo. Escrever cada uma delas não ajudou nenhum pouquinho nesses últimos sei lá quantos anos. A “Menina” estava errada! Colocar no papel o que eu senti todos esses anos em silêncio não transferiu para a folha em branco o que sempre esteve aqui dentro. Eu devia saber que de vez em quando a “Menina” erra. No entanto, preferi acreditar que se eu continuasse escrevendo, o que eu sinto iria embora. Foi mais fácil dessa maneira.
Eu não sei se você já
ouviu falar em Dawson’s Creel – é minha série adolescente preferida de todos os
tempos. No último episódio, Pacey – meu personagem favorito – se declara para
Joey – os dois são a definição de amor verdadeiro para mim (não que essa
informação seja relevante). Enfim... Na cena em questão, ele diz o seguinte: “I also want for you to be happy. So I want you to be with someone… Who can be a part of
the life that you want for yourself. I want you to be with someone who makes
you feel the way I feel when I'm with you. So, I guess the point of this
long run-on sentence that's been the last 10 years of our lives is that the
simple act of being in love with you is enough for me”. Eu amo tanto a forma como
ele expressa as coisas que sente. Por isso, faço dele as minhas palavras. Eu
quero que você seja muito, muito, muito feliz, não importa se sozinho ou com
alguém. Agora não faz mais diferença. O simples ato de gostar de você é
suficiente para mim. Foi muito feliz compartilhar os últimos anos contigo.
Guardarei para sempre no meu baú de memória.
Com carinho,
Rematente!
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Parabéns