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Biblioteca de fases

O texto de hoje traz parte do meu discurso da graduação como parte da história de "A Menina e o Sábio", afinal a arte e a vida se imitam, não é mesmo? Espero que gostem!
P.S.: Ainda não corrigi os erros. Estava ansiosa demais para postar esse conto. S2

21 de Janeiro de 2011
            O Colégio Inspirar formava mais uma turma de terceiro ano em Janeiro de 2011, a turma da Menina, do Menino e de parte de seus amigos – aqueles que, assim como Francisco, deixaram o antigo centro de educação depois que Lívia foi expulsa, consequência de uma discussão com a Professora de Redação. O Colégio Inspirar pertencia ao Amigo do Pai da Menina – um Professor de Matemática aposentado da Universidade Federal de Serrapilheira – e, naquele ano, completava, finalmente, dez inesquecíveis anos de estrada. Mais do que isso, o aposentado (mas ainda sim) Professor de Matemática celebrava o Primeiro Lugar Geral de Lívia – a Menina prestara vestibular para Matemática – no vestibular da UFSR. Ela não sabia quem estava mais feliz, se o Pai ou se o Melhor Amigo do Pai, dois Matemáticos apaixonados pela profissão que escolheram. No entanto, aquele dia não fora reservado para vislumbrar uma brechinha do futuro através da coxia, e sim fora escolhido para celebrar um ciclo que chegava ao fim, vivido desde a época em que a cognição não estava desenvolvida o suficiente para formar lembranças acessíveis.
- Boa noite! – Exclamou o Diretor de o Colégio Inspirar, em cima de um palco improvisado, montado na quadra de esportes utilizada, geralmente, para as aulas de educação física, para um público formado por estudantes, professores e funcionários, e família e amigos. Os alunos estavam nas primeiras fileiras daquela plateia sorridente, enquanto alguns professores assistiam a cerimônia de cima do palco – um espaço ao lado esquerdo fora reservado especialmente para eles. Como era um dia de celebração, ninguém precisava usar o uniforme verde e cinza – em seus tons claros. Na verdade, a farda estava proibida pela direção e pelos próprios formandos. Lívia vestia uma saia de cintura alta branco-perolada, enfeitada com flores do mesmo tecido dispostas em linhas verticais e na bainha, um tomara-que-caia preto, que terminava em um bonito laço nas costas e uma anabela também branco-perolada. O cabelo loiro claro estava solto e as sardas – muitas, por sinal – não foram escondidas. Um diadema e um par de brincos de pérolas completavam o visual. Francisco usava um casaco preto e uma camisa – que combinava com a cor da saia de Lívia – e uma calça jeans escura, quase preta. O cabelo castanho estava, como quase sempre, meio bagunçado. A Melhor Amiga da Menina, Luciana, usava um vestido rodado azul claro e branco, com elástico abaixo do busto, e uma sandália vermelha, por conta da gravidez de seis meses. Os outros alunos, cada um com seu estilo, também estavam arrumados para comemorar o final de mais um ano, não aquele que termina no dia de 31 de Dezembro, mas aquele que chega ao fim quando mais um ciclo se fecha.
- Boa noite!!!!!! – Responderam os presentes, visivelmente animados. O Diretor sorriu.
- Vocês estão animados? – Perguntou o Diretor.
- Sim! – Responderam todos em uníssono.
- Eu também, eu também. Animado e emocionado. – Então, uma lágrima escapou e fez caminho até o chão. O Diretor enxugou a seguinte para não se entregar a emoção. A Plateia o acolheu. – Perdão! – O Vice aproximou-se do colega de trabalho e amigo de vida e entregou-lhe um lencinho. Depois de quase um minuto, O Diretor se recompôs e voltou a falar. – Completar dez anos de estrada faz o sonho de uma vida inteira valer muito a pena. – O Diretor parou mais novamente, mas, dessa vez, o intervalo foi justificado pela garganta seca. – Agora sim! Obrigada! – Agradeceu. – Eu não sei se todos sabem, mas há uma história por trás da palavra Inspirar, existe um por que por trás do nome de nosso querido Colégio... Meu Avô costumava dizer que não existia, no mundo, palavra mais bonita do que I-N-S-P-I-R-A-R. – Antes de dar prosseguimento a narrativa, o Diretor fez uma pequena pausa, quase imperceptível, para atiçar a curiosidade. – Quando perguntei por que, ele, como quem não quer nada, respondeu: “Meu neto, inspirar não é apenas despertar no outro – ou ser despertado – a vontade de seguir um sonho ou de caminhar descalço pela incerteza; inspirar é também encher os pulmões com ar. É pensar: ‘calma, respire fundo! Tudo é passageiro....”. – No fundo daquele palco improvisado, sentado na cadeira, agora vazia, apareceu um Senhor de Chapéu, o Avô do Diretor. Infelizmente, apenas o Menino e a Miúda conseguiam enxerga-lo. Ele parecia emocionado ao escutar aquela história guardada há tanto tempo dentro do baú de memórias – nos pensamentos. Ao perceber que Francisco encarava a cadeira vazia, Lívia sabia que o Namorado observava alguém que ela não podia enxergar. Desde pequeno, o Menino compartilhava ideias com aqueles que já não “pertenciam” a este plano. Uma vez ou outra, os dois conversavam sobre o que os mantinham presos à vida e, sempre que isso acontecia, a noite virava dia quase num piscar de olhos, porque os motivos e as possibilidades pareciam infinitos. A Miúda, por outro lado, – com seus três anos, recentemente completados – não percebia que o Senhor de Chapéu não estava realmente ali. Para Júlia, o Avô do Diretor, que agora acenava para ela de cima do palco, escutava as palavras do Neto sentado em uma das cadeiras, como qualquer outro ouvinte... Mas, por enquanto, essa história ficará guardada para outros momentos. Agora, o centro das atenções ainda é a formatura da turma da Menina e do Menino. – “Inspirar é encher os pulmões com coragem”. – Concluiu o Diretor, emocionado. O minuto seguinte foi preenchido por uma mistura de sons que transmitia toda energia positiva que o público sentia. – Obrigado! – Agradeceu o Diretor antes de dar prosseguimento a Cerimônia. Os Representantes de Turma exibiram um vídeo recheado com momentos do ano que passou. O primeiro segmento da edição trouxe os casais da turma, não apenas os relacionamentos entre os formandos, mas também aqueles que, de alguma forma, fizeram parte do terceiro ano. Lívia sorriu, enquanto Francisco ficou vermelho. Luciana não acreditava no que estava assistindo. Já Joaquim achou graça. A reação dos demais casais foi mista, uns adoraram, outros pediram secretamente para que a música “You and Me”*, de James TW, usada como trilha sonora, acabasse.
– QUE POUCA VERGONHA É ESSA? – Gritou o Melhor Amigo da Menina de onde estava – na ala da Família e dos Amigos. Como seu Pai fora transferido para outra cidade, o Melhor Amigo não pôde terminar o ensino médio com a Menina, mas fez questão de estar presente no final de mais um ciclo.
- CHICO! – Gritou a Miudinha. Mia, que segurava a Cunhada Caçula no colo, sorriu envergonhada. Miguel que estava ao seu lado também ficou sem graça. Depois do segmento dedicado aos casais vieram os minutos destinados à amizade, seguidos pela relação funcionário/professor-aluno e, por fim, pela família. Cada parte foi embalada por uma música de fundo escolhida a dedo pelos Representantes – tão a dedo que grande parte daquele público misto não segurou as lágrimas. Ao final do vídeo, os Representantes agradeceram ao Diretor pela oportunidade de compartilhar todos aqueles momentos e pediram desculpa aos casais por deixá-los sem graça. Todo mundo riu.
- Para os casais, aviso urgente: a partir de agora o beijo está proibido no Colégio Inspirar. – Brincou o Diretor. – Onde estávamos? – Perguntou o eterno Professor de Matemática, de maneira retórica. Depois de procurar em suas anotações, o Diretor voltou a falar: – Antes de entregar os diplomas, gostaria de chamar ao palco uma aluna... Lívia, você pode vir aqui? – Surpresa, a Menina olhou para os lados sem saber o que estava acontecendo. Francisco apertou a mão de Lívia e sorriu, dizendo, sem pôr em palavras ditas ao vento, para ela inspirar. A Menina soltou a mão do Menino e subiu – ainda sem ter certeza se subir era a coisa certa a fazer – no palco. Então, o Diretor explicou – Algumas semanas atrás, talvez, alguns meses atrás – não sei ao certo – eu encontrei, sem querer, um texto seu perdido por aí. Você poderia lê-lo para nós? – Pediu o Diretor, entregando as folhas de papel para a Menina. Aliviada por finalmente encontrar aquele texto, Lívia sorriu.
- Biblioteca de fases. – A Menina leu em voz alta, segurando o microfone com a mão esquerda. De repente, a quadra ficou completamente em silêncio. Durante alguns instantes, aquela “falta” de sons foi assustadora para a Menina. Por isso, antes de recomeçar o texto, Lívia lembrou-se do anel de compromisso – sempre visto no dedo anelar da mão direita – que Francisco lhe dera em 01 de Maio de 2009, quando completaram um ano de namoro:
Biblioteca de Fases:
 Somos protagonistas da nossa própria história. Somos uma peça com fim. Somos uma mistura de quem fomos ontem e de quem queremos ser amanhã. Somos eternos aprendizes. Erramos, reconhecemos, crescemos, aprendemos. E se não podemos aprender sozinhos, aprendemos com os outros, com aqueles que amamos. Ao longo do caminho uns se encontraram, outros se foram, outros chegaram. Os que foram, não se “foram”, apenas seguiram caminhos diferentes, histórias diferentes. Eles não se tornaram personagens recorrentes, mas personagens que ao longo do caminho receberam novas missões na vida de cada um de nós. Os que chegaram vieram de outras épocas, outras histórias. Apagamos alguns pontos e demos lugar às vírgulas. Aumentamos o número de protagonistas e de participações especiais. Alguns dos que chegaram se juntaram ao grupo e seguem conosco até a última cena do último ato de uma peça. Outros, nós encontramos nas encruzilhadas da vida. Esses não seguem com a gente até o fim dessa jornada, mas vão além dela. São pessoas que aparecem como participação especial nesse livro que termina agora em 2011, mas que em um contexto mais amplo, são mais do que uma participação especial, são uma presença obrigatória.
Independentemente do tempo que compartilhamos com cada personagem, seja ele protagonista ou coadjuvante, ao final do dia, escrevemos cenas inesquecíveis. Têm aquelas, em que o riso solto ecoa com o vento e preenche o ar com uma felicidade genuína. Como esquecer nosso café da manhã no primeiro dia de aula deste último ano? Ou o acampamento no pátio do Colégio? Aprendemos a dividir tarefas, a enxergar e entender o medo do outro, a procurar e não se esconder dos animais que vivem escondidos entre as folhas das árvores e, por que não, a cozinhar? Nem sempre acertamos. Às vezes, o almoço estava salgado, enquanto o jantar vinha insosso e o café da manhã doce demais... Mas não é possível acertar todas às vezes, não é mesmo?
Infelizmente, os dias não foram todos escritos com uma louca alegria, alguns foram preenchidos com cores menos vibrantes, mais tristes. Quem não se lembra da explosão que paralisou a cidade em Julho do ano passado? Primeiro, fomos preenchidos pela angústia da espera. Cada minuto sem notícia era um minuto a mais de agonia. A angústia, então, deu lugar ao alívio. Todos aqueles que trabalhavam na obra do Colégio foram resgatados sem maiores problemas pela equipe formada por bombeiros, policiais e paramédicos. O problema, na verdade, apareceu depois. Alguns apresentaram ferimentos graves e não estavam totalmente fora de perigo. Mais uma vez, a sensação de não conseguir respirar direito tomava conta de cada um de nós. Sensação essa que durou alguns dias infinitos, é verdade! Mas que quando foi embora, foi embora de vez, cedendo seu espaço para sentimentos mais leves.
Da alegria, passando pela tristeza, chegamos aos dias musicados com a trilha sonora incidental dos filmes de terror. Quem não se lembra do primeiro seminário? Da primeira prova oral ou dos dias que antecederam o tão aguardado ENEM/Vestibular? Do tumtumtum da música e do coração aumentando à medida que o futuro se tornava presente?... Era uma tremedeira só, quase como a marchinha de carnaval que canta: “que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé”. Mas, quem vivenciou, sabe que, depois do nervosismo, vem sempre o alívio, seguido da alegria... No caso do vestibular, vêm até Coca-Cola, bolo e coxinha juntos, justificado, claro, pelo estresse que é conviver com um concluinte.
Mas, se os momentos foram assim, tão inesquecíveis, foram pelas pessoas que neles estiveram – todos e cada um de vocês. Se for para começar por alguém, acho que nada mais justo do que falar dos nossos representantes de turma. Que sorte a nossa tê-los conosco! Se nós fizemos bonito nas provas, seminários e nos vestibulares, precisamos agradecer a vocês por cada evento de revisão organizado. Mas, nosso agradecimento vai além dos estudos. Quem mais, se não os representantes, pensaria em fazer um evento temático por mês para celebrarmos o último ano de colégio da melhor maneira possível? Foram dias inesquecíveis, marcados por muita comida e, principalmente, por momentos que levaremos para o resto de nossas vidas...  E se de um lado, estamos nós alunos, do outro, estão vocês, professores, coordenadores, diretores e funcionários, que nos ajudaram a crescer como seres humanos. Alguns foram mais que professores, foram figuras maternas e paternas que encontramos pelos corredores do colégio. Outros nos incentivaram a pensar, nos fizeram questionar e duvidar. Fizeram de nós mentes pensantes. Têm ainda aqueles que foram os dois ao mesmo tempo e que ao final desse caminho tornaram-se personagens inesquecíveis de nosso enredo inacabado. A todos vocês, o nosso muitíssimo obrigado. E se é para agradecer, precisamos de palavras muito doces para demonstrar nossa enorme gratidão aos nossos pais, irmãos, avós... Nossas famílias! Sem vocês, a estrada teria sido muito mais difícil e tortuosa. Obrigada!
     A partir de agora, o futuro nos espera. Cheio de surpresas e reviravoltas. Alguns dias serão pincelados com cores alegres, outros com cores mais tristes. Uns terão encontros, e reencontros, outros tantos serão preenchidos com o silêncio da solidão e com o eco de nossos pensamentos, mas todos prometem ser, de uma forma ou de outra, inesquecíveis. Mas, como o amanhã está além do horizonte, nos resta apenas seguir caminhando em direção ao futuro, enquanto celebramos o presente como quem canta e dança debaixo da chuva, sem esquecer-se do amanhã, mas dando mais valor ao dia de HOJE. Como diria a canção “vamos viver tudo o que há para viver” hoje?   Boa noite!
- Obrigada, Lívia! – Agradeceu o Diretor, emocionado. A plateia também não escondia as lágrimas, agradecendo as palavras Menina através de aplausos, assobios e gritos. Em resposta, Lívia fez referência ao público, voltando à ala dos estudantes com a ajuda de Francisco. – Agora sim! Chegou a tão esperada entrega dos diplomas. Vocês estão preparados para encerrar de vez o ensino médio?
- SIM! NÃO! – Gritaram os alunos. O Diretor riu.
            A chamada foi em ordem alfabética. Cada um dos vinte alunos teve a oportunidade de dizer algumas poucas palavras de despedida. Alguns, entretanto, muito emocionados, preferiram deixar as palavras para depois.
- Francisco Siqueira Queiroz. – O Menino abraçou o diretor e fez referência ao público, um pouco constrangido de estar diante de tanta gente. – Lívia Oliveira. – A Menina também deu um abraço apertado no diretor. Antes de descer, no entanto, Lívia agradeceu aos professores e aos funcionários que estavam no palco e se despediu do terceiro ano acenando para todos aqueles que compareceram àquele dia tão especial. – Antes de continuarmos, vou atender ao pedido de um ex-aluno muito especial. Joaquim! – Então, o Irmão Mais Velho do Menino subiu no palco com o violão pendurado nas costas.
- Pronto? – Perguntou o Diretor. Joaquim fez que sim com a cabeça.
- Lu, eu espero que nossa filha – Ana – seja melhor em coreano do que eu. – Anunciou Joaquim antes de começar a tocar uma melodia desconhecida. – O nome dessa música é:
Pra Você, uma canção.

Escrevi esta canção
Para contar ao seu coração
Que o céu estrelado
É mais bonito ao seu lado

Se a chuva cair
Não tenha medo
Te convido a dançar
Mesmo sem jeito

Quando a lua se for
Para o sol despertar
Talvez seja o momento
De recomeçar

Escolha uma roupa
Amarre os cadarços
É hora de dar
O primeiro passo

Um, dois, três
Tente não perder o ritmo
Mas se não for possível
Que seja só comigo

Um, dois, três
Tente não desanimar
Mas se não for possível
Contigo eu vou estar

            Ao final da música, o Diretor finalmente chamou a Melhor Amiga Menina para o palco:
- Luciana Chira Choi. – A filha de Felipe transbordava felicidade pelos olhos. Apesar do medo que sentia de não ser uma boa mãe, aquele momento a fez acreditar que não estava sozinha e que escolhera a pessoa certa, mesmo que o momento fosse “errado”. Luciana agradeceu a Joaquim, cochichando algumas palavras – inaudíveis a plateia – no ouvido do namorado. Assim como Lívia e Francisco, ela abraçou o diretor antes de descer do palco. Depois que todos os estudantes foram chamados, as famílias, os amigos, os professores e os funcionários aproveitaram o tempo que restava daquela festa, que oficialmente finalizava o terceiro ano do Colégio Inspirar, para escrever memórias inesquecíveis.  
- Gostou da música, Amor? – Perguntou Joaquim. Ele, Luciana, Mia, Miguel, Francisco e Lívia estavam sentados na mesa reservada para as famílias. Os pais da Menina e do Menino, a Miúda e Felipe foram embora fazia algum tempo, cansados demais para permanecerem acordados depois das duas da manhã. Na verdade, pouca gente continuava na festa. Dava para contar nos dedos o número de convidados restantes.
- Chira-Choi, ainda bem que nosso namoro não durou tempo suficiente. Imagina só?! Eu poderia ser o pai. – Interrompeu o Melhor Amigo da Menina. Todo mundo riu. Apesar de os melhores amigos de Lívia não terem dado certo como casal, eles permaneciam em contato, sempre implicando um com o outro. Vicente puxou a cadeira que estava perto da mesa ao lado e se juntou ao grupo.
- Fomos menos que um momento. – Brincou Luciana.
- Assim você me ofende.
- Objetivo concluído.
- Joaquim, não conhecia esse seu lado romântico.
- Nem eu. – Mia e Francisco disseram em uníssono.
- Como é que diz aquela frase “existe mais do que os olhos podem ver”?!
- Virou poeta. – Implicou Vicente.
- Cala a boca! – Luciana amassou um guardanapo e jogou no Melhor Amigo da Menina.
- Você continua o mesmo! – Comentou Lívia, feliz por compartilhar aquele momento com Vicente.
- Se eu mudasse, o mundo perderia um grande homem. – Miguel riu. – Você sabe que para ser um grande homem não é preciso ter altura, não é Um-Nove-Três? – Brincou Vicente, chamando Miguel pelo seu apelido mais conhecido. – Você não conhece as vantagens de ter menos de um metro e noventa e três. Por exemplo, Mia não teria dor no pescoço toda vez que fosse me dar um beijo.

- Mia, você não está perdendo nada. – Luciana mais uma vez implicava com o ex-namorado, fazendo todo mundo rir.
- Amor, você gostou da música? – Joaquim perguntou de novo.
- Amei! – Como forma de demonstrar o quanto amara a canção, Luciana beijou a bochecha do Namorado. – Tem dedo de Lívia na melodia? – Joaquim e Lívia foram pegos de surpresa. Os dois combinaram de manter aquele pequeno detalhe em segredo, mas Luciana conhecia demais o Namorado e a Melhor Amiga para não encontra-los nos detalhes. – Você sempre reclama que não consegue musicar as letras que escreve.
- Lívia não demorou dois tempos para encontrar a melodia... Foi humilhante!
- Essa é minha Namorada! – Francisco disse em voz alta.
- Que exagero, Cunhado!
- A letra, pelo menos, fui eu escrevi.
- Eu sugeri alguns versos também...
- Mas eu preferi não adiciona-los.
- Quais?
- Escrevi esta canção / para contar ao seu coração / que nas minhas lembranças / há tempo de sobra / para voltar a ser criança. – O final da festa veio um pouco depois das duas e meia. Os três casais e o Melhor Amigo da Menina foram para casa de Francisco. Aquele dia especial terminou em TV, pipoca e refrigerante. Na verdade, a madrugada não se estendeu por tempo suficiente para assistir a um filme inteiro. O título escolhido não chegou nem a metade quando Miguel e Mia – os únicos que resistiam ao sono – decidiram desligar a televisão.
- Boa noite, meu Amor! – Desejou Miguel.
- Boa noite! – Desejou Mia, sorrindo. Então, o Irmão Mais Velho da Menina beijou a Irmã Mais Nova do Menino antes de fechar os olhos. Os dois dividiam o enorme sofá-cama da sala de TV com Lívia e Francisco, enquanto Luciana, Joaquim e Vicente dormiam nos colchões.

*Notas da autora: Eu sei que essa música foi lançada em 2019. No entanto, me pareceu a canção perfeita para o texto, porque escutei no momento que escrevia este conto. 

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