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Da série: de onde você veio, menina? E o seu amigo, o Sábio?


“A Menina e o Sábio – Iluminando um ao outro”

Enquanto o dia ainda se espreguiçava, a Menina e o Sábio permaneciam sentados em um balanço da praça da cidade. Eles se mantinham em silêncio até os primeiros raios de luz chamarem a atenção dos dois. Percebendo que o Amigo sorria, a Menina perguntou:
- Você já ouviu falar dos Amigos-luz? – O Sábio olhou para o lado, onde a Menina estava sentada e, intrigado, repetiu em forma de pergunta:
- Amigos-luz? – Ele sabia que a Menina gostava de fazer perguntas diferentes, mas, talvez de todas as que ela já tinha feito, essa pareceu a mais estranha. Mas o Sábio gostava disso, do jeito que a Menina formulava seus pensamentos, pois a conversa era sempre uma surpresa agradável e hoje, pelo visto, não seria diferente, ela seguiria um caminho, até o momento, bem estranho e certamente interessante. – Não sei, mas não me parece familiar... – O Sábio voltou a falar, enquanto tentava, por mais alguns minutos, lembrar se já ouvira falar desses “Amigos-luz” em seus mais de 80 anos. A Menina esperou, pois queria deixar seu amigo um pouco mais curioso. Ele sorriu. – Acho que você terá de me contar, Doce Menina. Eu os conheço?
- Certamente, Amigo Sábio. Mais do que você imagina ou é capaz de lembrar. Mas não se preocupe, eu o ajudarei. – Falou a Menina alegremente.
- Então, me diga, Doce Menina, quem seriam os meus amigos-luz? – Perguntou o Sábio, curioso.
- Pergunta errada... – Respondeu ela, fazendo o Sábio sorrir. – a pergunta certa é: como reconheço um amigo-luz? – Corrigiu a Menina.
- Está bem... Como reconheço um amigo-luz, minha mais jovem amiga? – Repetiu o Sábio transpirando curiosidade pelos poros. A Menina riu e sorriu e fez questão de lembrar ao amigo:
- Não sou tão jovem assim, mas isso você em breve descobrirá... - O Sábio ficou confuso... Não era a Menina apenas a sua consciência? Ou seu subconsciente como ele achara por todo esse tempo? Se não era alguém que só existia em sua mente, quem seria essa Doce Menina que o acompanhava? Preenchendo sua vida com cores mais alegres e músicas mais felizes? – Sabendo o que se passava em sua mente, a Menina respondeu a pergunta não dita. – Se você for capaz de enxergar um amigo-luz em seus mais de 80 anos, vai saber quem eu sou, amigo Sábio... – A Menina conseguira o que queria: deixar o Sábio curioso e, sem dúvida, extremamente empolgado. Ele se esforçaria ao máximo para descobrir quem era a Menina, a centelha de esperança de sua vida.
- Centelha de esperança? – Perguntou a Menina desvendando os pensamentos do Sábio. – Acho que você sabe mais do que imagina. – O Sábio ficou constrangido ao ouvir da Menina palavras que sua mente escondia. – Não fique vermelho, amigo Sábio. Você vai descobrir minha centelha de esperança. – O Sábio se assustou. Não sabia se a ideia de a Menina realmente existir ou ter existido o deixava feliz ou aterrorizado. Aterrorizado porque se ela existiu talvez fosse alguém do seu passado... Passado desbotado que o tempo fazia questão de esconder.
- Doce Menina, você tem o dom de me deixar curioso. – Confessou o Sábio.
- Eu sei, sempre tive este dom. – Empolgou-se a Menina, sorrindo mais do que o normal.
- Se fôssemos parte de um livro, pensaria muito em ler o final... – Disse o Sábio, feliz. A Menina sorriu.
- Ainda bem que não somos e mesmo se fôssemos, eu o proibiria de ler o desfecho...
- Você nunca quis pular para o final? – Perguntou ele, querendo descobrir mais sobre a Menina.
- Se eu estivesse lendo um conto, por exemplo, e sentisse uma vontade incontrolável de saber o final dos meus personagens favoritos, não pensaria duas vezes: tomaria sorvete. – O Sábio gargalhou. Achara a resposta da Menina hilária.
- E o que sorvete tem a ver com o final do conto, Doce Menina?
- Não ria. – Disse a Menina, magoada. Se ela realmente estivesse ali, provavelmente, o empurraria com o ombro. Mas, para a tristeza da Menina, ela não conseguiria, mesmo se tentasse, “implicar” com o Sábio. Na verdade, não seria impossível, mas também não seria assim tão fácil. A mudança em seu semblante foi tão visível que o Sábio percebeu em um piscar de olhos. Porém, antes que ele pudesse perguntar a ela o que tinha acontecido, a Menina logo voltou a conversar sobre o assunto deixado de lado, dissipando a energia triste que ameaçava visitar o Sábio - Faz todo sentido do mundo. Voltar para a realidade e me afastar um pouco da fantasia do conto, me ajudaria a controlar o incontrolável. Você deveria tentar um dia. Só assim é possível se des-envolver.
- Desenvolver? - Perguntou o Sábio, perdido. A Menina riu.
- Não “desenvolver”, mas “des-envolver”. – Explicou a Menina.
- Não acho que essa palavra exista.
- Provavelmente não existe. No dicionário, pelo menos. Mas alguém dever ter criado em algum lugar debaixo deste céu. – A Menina olhou para cima, apreciando o nascer do dia. Ela fechou os olhos para sentir o vento e escutar os pássaros que cantavam alegremente naquela manhã ensolarada. O Sábio fez o mesmo. A Menina sorriu. O Sábio também. Ainda de olhos fechados a Menina disse:
- Viu? Você se deixou envolver pelo cantarolar dos pássaros.
- DES-envolver – Repetiu o Sábio, entendendo o que a Menina queria dizer.  Ele abriu os olhos e procurou pelo passarinho que musicava aquela manhã.
- Ele está ali. – Apontou a Menina ainda de olhos fechados. O Sábio observou o passarinho alegre durante um tempo até ele abrir asas e voar. A Menina abriu os olhos e olhou para o Sábio. – Os passarinhos foram nosso sorvete. – Disse a Menina. O Sábio franziu o cenho, sentindo-se cada vez mais perdido. – Fomos para tão longe do presente que o Sábio se esqueceu da minha centelha de esperança, dos amigos-luz, de pular para o final... – A Menina abaixou a voz até sobrar apenas o silêncio, deixando o Sábio entender sua maneira pouco usual de chegar ao ponto. Ela estava satisfeita consigo mesmo, pois, apesar do minuto vivido, a Menina conseguira fazer o Sábio perceber a relação entre o sorvete e o cantarolar dos passarinhos. Não vale a pena descobrir o fim sem viver o começo e o meio. A trajetória é sabedoria em construção. Ela tem muito a ensinar. 
- Você é muito peculiar, Doce Menina. – Comentou o Sábio. A Menina sorriu.
- É uma das minhas melhores qualidades.
- Certamente é. – Concordou o Sábio. Os dois sorriram.
- Tenho uma proposta para você amigo Sábio. Quer escutá-la? – O Sábio sorriu, aproveitando cada segundo que passava com sua mais jovem Amiga. Junto a ela o Sábio sentia que poderia ser ele mesmo, por inteiro. Melhor do que isso, quando estavam juntos, o mundo ao redor chegava a ficar mudo.
- Receio que sim. – Brincou ele.
- Você entende de flor ou de passarinhos? – O Sábio balançou a cabeça em sinal de mais ou menos. - Vamos jogar “quem sou eu”, então!
- “Quem sou eu”? Que jog...? – Foi então que em um piscar de olhos, o presente se desfez e o passado reescreveu a mesma cena mais ou menos 70 anos antes. Agora ele sabia quem era a menina e de onde ela veio...
- Pata de vaca, Lívia? Isso não é nome de planta. – Reclamou Francisco.
- Pode olhar no seu aplicativo. É o nome popular dela. – Do balanço onde estava, o Sábio fotografou a flor e esperou que o aplicativo a reconhecesse. Em menos tempo do que você imagina, o alerta do celular ressoou pelo parque. Lívia estava certa. Os dois riram.
- 10 a 7 pra você. – Resmungou o Sábio.
- Ganhei!!!! – Gritou a Menina. Ela pulou do balanço e fez Francisco rir com sua dança da vitória.
- O que você está fazendo? – Perguntou o Sábio
- Dançando. – Respondeu ela.
- Tem certeza? – Francisco gargalhava.
- Faça melhor, Francisquito. – O Sábio então se uniu a Menina em uma confusão de movimentos não sincrônicos que apesar de errados pareciam certos por transbordarem a alegria que os dois sentiam de estarem juntos. Talvez, os amigos-luzes da Menina do presente representassem o que Francisco e Lívia sentiram naquela época, mais ou menos 70 anos atrás. Algumas pessoas, quando juntas, se iluminam. Elas são capazes de dar leveza a vida, de transformar segundos em eternidades. Fazem da tristeza, alegria. São pessoas que juntas, são inteiras de si e metades de um mesmo momento, de uma mesma felicidade. 

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