A Minha Abuelita, que foi competir com Vovô lá em cima para ver quem come mais.
O Sábio (naquela
época, mais Menino, mais Francisco) se despediu de Lívia no hospital. Na manhã
seguinte, ela foi embora por completo. Nada que ele fizesse traria Lívia de
volta a vida. Francisco não poderia voltar no tempo para dias antes do
acidente. Tomar um rumo diferente. Só seria possível voltar no tempo através
das lembranças, dos sonhos, dos pensamentos. Aqui dentro. Mas, naquela noite,
depois do último adeus, o Menino não queria sentir a saudade boa do passado,
ele preferia deixar a dor transbordar. Depois de tirar o paletó e os sapatos
surrados, Francisco foi para o jardim de sua casa e, sem pensar duas vezes,
abriu o chuveirão e deixou a água fria molhar seu corpo, talvez até, sua alma.
Ele fechou os olhos e parou de lutar. Lutar contra realidade das últimas 24
horas. A verdade preencheu seus pulmões como ar até ser transformada em uma
mistura de soluços, lágrimas e dor. Debaixo d’água, o Menino parou de escutar
os sons que musicavam aquela noite sem estrelas. Quando suas pernas não
suportavam mais o peso da perda, Francisco sentou na beira da piscina e
mergulhou. Ele precisava gritar. Gritar não para os outros, mas por si mesmo.
Gritar porque a dor o sufocava, porque em momentos assim fazia sentido para ele
preencher o silêncio com o som que a dor trazia. Lívia dizia que a dor só
mudava de cor quando era sentida. Ela repetia: “quem se deixa sentir, absorve
melhor a vida. Sentimentos inacabados - não vividos - prolongam os dias de
histórias passadas que não voltarão. Deixam abertos finais já escritos”. E ele
espera que com o tempo, sua dor mudasse de cor. Fosse cor com gosto de
saudade...
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