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Da Série: De onve você veio, Menina? E o seu amigo, o Sábio?

O texto de hoje é dedicado a Camilla e a Sarah que sempre têm palavras lindas sobre o blog: "Menina, amei o texto A Menina & O Sábio - Memórias de Duas Vidas" ou "Teu blog é lindo demais". Mas não só por isso, por todos os anos de amizade. Sou muitíssimo grata. É também dedicado a minha hermanita del alma que fez aniversário recentemente e que me acompanha desde os tempos de criança. Te quiero muchísimo, lo sabes, no?
Qualquer comentário, lua ou estrela é só deixar aqui ou no twitter @Chaconerrilla

A Menina & o Sábio – Só isso?

Sentado do lado de fora, na varanda, o Sábio segurava um cartão de aniversário - recém preenchido com palavras que a Menina não podia ver. Ela o observava do balanço, (hoje, gasto pelo tempo) enquanto esperava o Sábio terminar de reler as palavras que acabara de escrever para a filha do meio. Algum tempo no futuro, agora passado, a Menina levantou, subiu os três degraus da casa e sentou ao lado de seu amigo, o Sábio. Ele, sem jeito, tentou esconder o cartão, colocando o chapéu em cima. A Menina sorriu sem sorrir.
- Você sabe que não adianta esconder de mim, não sabe? – Perguntou a Menina de maneira doce. O Sábio, encabulado, colocou o chapéu de volta na cabeça e abriu o cartão mais uma vez. As palavras estavam um pouco trêmulas, indicando o que Menina já sabia, o Sábio sentia medo. Medo de tentar. Medo de não tentar. Eram tantos os medos que o Sábio se sentia tonto e (meio) bobo também. Como um Sábio, como ele, podia ter medo? Medo de entregar aquelas poucas palavras para filha? Medo de reencontrá-la, mesmo depois de consideráveis anos? – Acho que você está se fazendo a pergunta errada. – Ele ainda olhava para o cartão quando a Menina o “interrompeu”. O Sábio não entendia do que ela estava falando. Mas, antes que ele pudesse perguntar, a Menina continuou. – Como um Sábio, como você, pode ter medo? – Os olhos dele se iluminaram, entendendo o que a Menina queria dizer. Ele também ficou um pouco vermelho, sabendo que ela o entendia como ninguém.
- Se essa é a pergunta errada, qual seria a certa, Doce Menina?
- Não sei, mas de uma coisa eu sei... Todo mundo sente medo, dos mais bobos e irracionais aos mais sérios e fundamentados. Até mesmo o mais Sábio dos Sábios.
- “Bobo e irracional” – repetiu o Sábio, ponderando. – Parece uma boa definição.
- Bobo e irracional aos olhos de quem vê de fora, de quem não pode compreendê-lo por completo. Bobo e irracional é você continuar aqui sem fazer nada. Sem encarar um possível futuro de frente ou desistir e continuar no passado.
- Não estou no passado.
- Está sim, pelo menos com relação a ela. Por que é tão difícil tentar? Por que é tão difícil bater na porta e dizer: ‘será que a gente pode conversar?’ – Os olhos do Sábio entristeceram e as lágrimas ameaçavam transbordar tudo o que ele mantinha encarcerado dentro de si, tudo o que a alma queria gritar em silêncio.
- Eu cometi um erro, Doce Menina. Um dos grandes e inesquecíveis erros... – Falou o Sábio, tristemente.
- Então, o Sábio é isso? SÓ ISSO? Um erro? Nada mais complexo? Com mais passado, mais histórias? - Questionou a Menina, olhando para um Sábio tão frágil e unicamente transparente. - Quanto tempo você compartilhou com sua filha? O tempo necessário para cometer um erro e pronto? Vocês foram um momento? Uma cena? Nada mais? – As perguntas da Menina o fizeram encará-la pela primeira vez. Ele estava transtornado.
- Não, mas...
- Você não pode se definir por um erro ou pelos seus defeitos. As pessoas não são e não estão resumidas a isso. Elas são um conjunto muito mais complexo de um todo tão infinito que defini-las como X ou Y parece muito pouco e limitante para o que elas realmente são. – A Menina agora falava mais pausadamente, pensando em como fazê-lo entendê-la - Você cometeu um erro, mas não é o erro em si. É o resultado de todas as suas experiências, boas e ruins, das pessoas que passaram pela sua vida, do ambiente em que foi criado, das vezes que errou e aprendeu com esses erros, das vezes que acertou e mesmo assim decidiu que queria ser alguém melhor, da vida que seus pais tiveram e que fizeram deles como são. O Sábio é mais do que 80 (?) anos, é uma metamorfose ambulante que, mesmo com tanta idade, ainda vai cometer erros e aprender com eles. Lembre-se sempre do que eu vou dizer, Meu Amigo: a gente nunca para de aprender. Como diria a música, nós somos eternos aprendizes. – As palavras da Menina deixaram o Sábio sem palavras e naquele momento ele tomou uma decisão, iria visitar a filha e reinventar a história dos dois. Ele queria recomeçar e esperava que ela quisesse o mesmo...
- E se ela não me perdoar? – Perguntou o Sábio, percebendo que essa era uma possibilidade.
- Você fala que não vai desistir e que quando ela estiver pronta, estará do outro lado com o lápis na mão ansioso para escrever uma nova história. – Dito isso, o Sábio levantou e ofereceu o braço para Menina, mesmo sabendo que ela não poderia pegá-lo.
- Me acompanha? – A Menina assentiu e aceitou o braço do Sábio. Os dois caminharam por alguns pares de rua até avistarem a casa alaranjada. Uma dúzia de passos separava o Sábio e a Menina de sua filha.


- Acho que agora não tem volta. – Disse o Sábio seguindo a trilha que levava a porta. A Menina sorriu.




Comentários

Unknown disse…
Apesar de não ser tão velho, pareço com o sábio.
Chaconerrilla disse…
*-* Que lindooooooooooooo comentário! Parece mesmo. Beijãaaao!

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