Dedicado a Pacey e Joey, o maior e melhor casal que a ficção já nos deu. Eles são a definição de amor verdadeiro das telinhas.
01 de Maio de 2008 (Quinta-feira)
Uma vez por mês, o Professor de Literatura
da Menina promovia um encontro extra para falar sobre as leituras dos
estudantes. Geralmente, para a turma de Lívia, ocorria numa sexta-feira, mas havia
exceções. Hoje, era uma delas. Ao invés de imprensar a sexta-feira, por conta
do feriado do dia dos trabalhadores, o diretor do colégio decidiu que haveria
expediente normal na quinta-feira, deixando o dia de descanso para o dia 02 de
Maio. Essa aula a mais era ótima para descobrir os livros que estavam em alta
entre os adolescentes, assim como servia para incentivar os alunos a lerem
mais. Afinal, o livro lido por um dos presentes acabava chamando a atenção de
um colega e, assim, abria-se espaço para o diálogo entre os discentes.
Histórias que misturavam fantasia e romance era o tipo de leitura mais presente
na turma de Menina. Romances contemporâneos também pareciam agradar a maioria. Outro
gênero muito presente na estante daqueles estudantes era o de não ficção,
principalmente, aqueles livros que falavam de acontecimentos históricos. Essa
diversidade de gêneros proporcionava um leque de discussões, desde conversas
banais sobre como seria viver em uma realidade em que a magia existia até
trocas de ideias sobre assuntos importantes, como, por exemplo, o papel da
mulher na ciência e, principalmente, por conta de Lívia, na matemática. Ela
sonhava em fazer parte do time de mulheres incríveis que contribuíram e
contribuem significativamente para o avanço da Matemática.
Quando conversava com o pai sobre isso,
um matemático muito apaixonado pela profissão, ela sempre dizia de maneira
empolgada: “pai, imagina como deve ser incrível poder falar: sim, sou
matemática que nem a Emmy Noether. Eu sei, eu sei! Estou sonhando um pouco alto
demais. É pouco provável – pouquíssimo, para falar a verdade – que eu consiga
ser um décimo do que ela representa, mas, como você sempre nos ensinou, não é
errado sonhar”. E o Pai, um sonhador incorrigível, sempre respondia: “Claro que
você pode ser um décimo do que ela representa. Na verdade, você pode ser tão
boa ou até melhor do que ela”. E, em resposta, a Menina sempre sorria e
aproveitava para acrescentar: “quando isso acontecer, eu faço questão de
mostrar meu diploma para aquele seu conhecido que diz que matemática não é
coisa de menina. É uma pena que não tenhamos um David Hilbert para falar em
alto e bom som: ‘cavalheiros, eu não vejo como o sexo do candidato define o que
ele pode ou não fazer. Afinal, os cursos de graduação não são casas de banho’”.
Claro que a imitação da Menina é uma adaptação do que Hilbert falou para o
conselho da universidade quando Emmy Noether se candidatou a uma vaga de professora.
No entanto, essas pequenas modificações eram extremamente necessárias para que as
palavras se encaixassem no contexto. Para finalizar a questão, o Pai dizia: “Você
tem a mim. Falo quantas vezes forem necessárias. Além disso, conhecendo minha filha
como eu conheço, tenho certeza de que você seria a primeira a verbalizar que as
mulheres podem fazer o que elas quiserem”. E, mais uma vez, a Menina sorria.
Hoje, no entanto, para a tristeza de
Lívia, matemática não parecia, até o momento, ser um dos tópicos da discussão.
Na verdade, o tema central da conversa era as diferentes formas de expressar o
amor romântico. Não apenas isso, mas (quase) tudo que envolvia esse sentimento.
Rafael, o Melhor Amigo do Menino, que sempre sentava no fundão, perguntou:
– E esse tipo de amor existe na nossa idade? A maioria ainda
nem completou 15 anos.
– É claro que existe – Afirmou Santiago, o Professor, com
convicção. – Conheço uma escritora, daqui de Serrapilheira, inclusive, que diz
que o amor romântico tem várias facetas ao longo da vida e que experienciar
cada uma delas faz parte do nosso processo de amadurecimento. Ela diz que os
adolescentes querem deixar a infância para trás ao embarcar naquilo que já não
é mais “nojento”: o primeiro beijo, o primeiro amor; enquanto os mais velhos (os
mais vividos) desejam ter com quem compartilhar a rotina mais calma, mais
serena.
– Não sei se concordo com isso. Meus avós têm uma rotina
bastante agitada. Fazem hidroginástica, dança de salão, estudam o inglês e, recentemente,
eles se inscreveram em um curso para aprender a tocar violão. – Falou Vicente, o
Melhor Amigo da Menina. Ele parecia orgulhoso de ter avós tão maneiros.
– Acho que com “rotina mais calma, mais serena”, ela quis
dizer que as grandes decisões que precisam ser tomadas ao decorrer da vida não
existem mais. – Opinou Luciana, a Melhor Amiga da Menina, que estava na
primeira fileira.
– Pode ser também que ela se refira a conhecer a vida ainda
não vivida. – Disse a Menina.
– Como assim? – Perguntou Gustavo, o Mau Elemento.
– Existe tanta coisa que as pessoas não fazem ao longo da
vida. Tanto coisa que elas deixam de experimentar para garantir que as coisas
estejam sempre no lugar – os filhos na escola, as contas pagas, os compromissos
de trabalho sempre em dia – que quando finalmente atingem determinado ponto da
vida, elas podem finalmente descobrir mais coisas sobre si mesmas, de coisas que
sempre estiveram em uma listinha de desejos até aquelas inesperadas, coisas que
elas nem sabiam que queriam experimentar. Meus avôs, por exemplo, depois que se
aposentaram, decidiram fazer uma viagem pelo Brasil, sem definir a data de
volta, para conhecer a culinária típica de cada região. Quando eles chegaram a
casa, a primeira coisa que minha avó disse foi: “Lívia, lembra-se da receita
típica que vimos aquele ator famoso cozinhar no programa ‘da minha terra’? É
horrível. Fui tão enganada que eu me sinto no direito de processá-lo”. – A
turma riu. O Professor também. – Já Vovô descobriu que chimarrão não agrada o
seu paladar. – A Menina riu ao lembrar-se de um detalhe. – Vovó disse que precisou
consolá-lo o resto da viagem, porque ele passou meses falando em experimentar
chimarrão, que essa experiência seria o ponto mais alto do itinerário. – Depois
disso, alguns estudantes compartilharam outras histórias divertidas sobre seus
pais e avós, fazendo os presentes gargalharem. Quando ninguém mais parecia ter
uma anedota para contar, o rumo da conversa mudou de sentido:
– Professor, como a gente sabe que gosta muito de alguém? –
Perguntou Luciana, querendo ter certeza dos seus próprios sentimentos. Ela queria
confirmar o que sentia por Vicente. O Docente pensou por alguns segundos antes
de concluir:
– Acho que varia de pessoa para pessoa. Minha esposa, por
exemplo, disse o seguinte quando eu fiz essa mesma pergunta: “você desperta minha curiosidade. Sempre estou me
questionando: ‘o que ainda não sei sobre ele? O que ainda tenho para
descobrir’”? – A revelação do Professor levou Lívia a pensar em Francisco. Ela
sempre queria saber mais a seu respeito. Sempre ficava contente quando
descobria algo que não sabia. Nesse momento, o Menino, que estava na cadeira
esquerda ao lado, parecia bastante concentrado na conversa da turma. “No que
será que ele está pensando?” perguntou-se a Menina.
– E você? Quando soube que gostava dela? – A voz de Vicente
trouxe a Menina de volta a sala de aula.
– Foi no momento em que
percebi que gostava, inclusive, de não gostar de alguns detalhes. – Nem todos
os alunos entenderam. – Deixem-me explicar melhor! – Foram necessários poucos minutos para o Professor continuar:
– Ela tem um pavio muito curto e, às
vezes, arruma confusão demais por onde passa, o que me deixa maluco em
determinados momentos... Só que, no final, eu gosto até de não gostar disso,
porque, depois que as coisas se ajeitam, quando eu me lembro das situações,
começo a rir, principalmente, quando estou sozinho. – Aquela confissão fez o
Menino olhar para a Menina e sorrir. Assim como a esposa do Professor, Lívia
sempre estava envolvida em encrenca. Ele já perdera as contas de quantas vezes
a Menina tinha sido expulsa de sala ou parado na coordenação depois de se
envolver em alguma briga com outro estudante. É verdade que aquela
particularidade tirava o Menino do sério em várias ocasiões, mas esse sentimento
não perdurava, porque, no fundo, gostava do jeito que a Menina se expressava.
– O que mais, Professor? O que mais é sinal? – Quis saber Luciana.
– Pensar na mesma pessoa com frequência. Lembrar-se desse
alguém ao ver alguma coisa que ela/ele gosta. Desejar passar mais tempo com
ela/ele e ficar decepcionado (a) com a vida quando isso não acontece. Querer contar
primeiro para ela/ele as novidades boas. Sentir-se meio nervoso (a) quando
ela/ele está muito perto. Ficar meio sem graça e um pouco (ou muito) vermelho
(a) ao encontrar o olhar dela/dele sem querer... São tantos os sinais
existentes e, mesmo assim, às vezes, é difícil enxergar o óbvio! Não se
enganem! Aquilo que está bem na nossa frente NÃO é, em muitas ocasiões, fácil
de perceber. – Santiago falava de modo geral, mas Lívia e Francisco se
reconheceram naqueles sinais. A Menina, por exemplo, sempre estava nos
pensamentos do Menino, assim como o Menino sempre aparecia nos pensamentos da
Menina. Francisco sempre se lembrava de Lívia quando ia à livraria e encontrava
algum livro sobre matemática. Lívia, por sua vez, sempre pensava nele quando
Miguel, o irmão mais velho, trazia um jogo novo de videogame para casa. A Menina amava quando os pais dos dois
(amigos desde a infância) marcavam um churrasco para o final de semana. O
Menino também achava que o Sábado e Domingo eram bem melhores quando tinha a
chance de encontra-la. Quando Francisco soube que disputaria a competição
interescolar como titular da seleção de vôlei do colégio, ele ligou para Lívia
na mesma hora. Lívia, por sua vez, telefonou para Francisco depois de descobrir
que o conto que escrevera para o concurso literário ficou em segundo lugar.
– E o que posso fazer para me declarar depois de perceber o
que sinto? Preciso de dicas para conquistar uma bailarina... – Perguntou
Vicente, falando de Luciana. A turma toda fez barulho. Santiago riu. Todos
percebiam que existia alguma coisa entre os dois, só não sabiam nomeá-la.
– Cala a boca, Vicente! – Gritou Luciana, metade
constrangida metade achando graça.
– Esse não tem medo do perigo. – Disse Rafael. Depois de
mais uns minutos de algazarra, alguém voltou a perguntar a Santiago o que
deveria fazer.
– Você pode ser direto e dizer na lata. Pode escrever um
poema ou, talvez, uma carta. Pode escrever uma música e cantá-la. Tem tantas
maneiras de se expressar que eu poderia passar horas falando a respeito.
– Professor, o que você fez para conquistar a sua esposa? –
Perguntou a Menina, muito curiosa.
– Vocês conhecem a banda Caiaque?
– Sim! – Muitos alunos gritaram em uníssimo.
– A turnê comemorativa de 25 anos de história já tem data
marcada.
– Os ingressos começarão a ser vendidos na semana que vem. –
Depois que a turma se acalmou, Luciana perguntou o que Caiaque tinha a ver com
aquela conversa sobre declaração.
– Vocês conhecem aquela música que canta “ao seu lado, eu
quero estar; ao seu lado é o meu lugar”? – Os estudantes conheciam muito bem.
Era uma das mais famosas do grupo. – Então, fui eu que compus para minha esposa
antes de começarmos a namorar. – Quase toda a turma ficou surpresa com aquela
revelação, inclusive a Menina. Ela sabia que Santiago fizera parte da banda,
mas não conhecia a história da música.
– Você é o “Santi” de quem o vocalista sempre fala nos
shows? Foi você que escreveu “Cadeira de balanço”? – O Professor assentiu. – É
a melhor música da banda.
– Bem, não sei se é a melhor, mas é a favorita da minha
esposa. – Um dos alunos achou um vídeo antigo de Caiaque na internet e ficou
surpreso ao reconhecer a versão bem mais nova do Professor.
– Meu Deus! É você mesmo. Procurem por “Cadeira de balanço
primeira versão”. É o primeiro link que aparece na página de busca – Todos os
presentes pegaram o celular e assistiram ao vídeo. Eles ficaram muito
impressionados com a voz do Professor. Era muitíssimo bonita. Depois disso, o
assunto amor romântico sumiu da conversa. Os alunos queriam saber como foram os
anos de Santiago na banda, o motivo que o fizera sair do grupo e como era a
relação dele com os demais integrantes de Caiaque. Antes que o Professor
pudesse responder cada uma delas, no entanto, o Coordenador apareceu na porta.
– Com licença!
– Ih, Lívia! É hoje que você será expulsa do colégio. –
Brincou Vicente. A Menina, em resposta, virou de costas e jogou uma bolinha de
papel nele.
– Não será dessa vez, Vicente! – Lívia virou para o Melhor
Amigo mais uma vez e estirou a língua. – Hoje, eu só preciso que ela venha
comigo preencher o questionário que vocês responderam no início da semana. Pode
levar as suas coisas. O questionário é longo. – Depois que a Menina e o
Coordenador se foram, os estudantes voltaram a bombardear o Professor com
perguntas.
(...)
– Algum problema com a correção? – Perguntou Santiago depois
que os demais alunos saíram. Depois que as perguntas sobre a banda diminuíram,
ele entregou as provas corrigidas para os que estavam presente, para alegria de
uns e tristeza de outros. Apesar de o sinal já ter tocado, Francisco permanecia
sentado “olhando” fixamente para o quadro. Na verdade, o Menino pensava nas
palavras do Professor. Agora, ele entendia o que sentira por Lívia todo esse
tempo, mas estava na dúvida se deveria ou não tomar atitude. – Francisco? – Ele
estava tão absorto em pensamentos contraditórios que não notou a aproximação de
Santiago. Só depois de ser chamado duas vezes, o Menino percebeu que o
Professor repetia o seu nome. Quando Francisco, finalmente, olhou em sua
direção, Santiago repetiu a pergunta feita anteriormente: – Algum problema com
a correção da prova?
– Prova? – Demorou um pouco para o Menino entender o que o
Professor queria dizer. – Ah! Não! Nenhum! Eu já esperava por essa nota.
Fizemos uma correção em grupo.
– Então... Você precisa de alguma coisa? – O Menino disse
que não. – É raro encontrar um aluno que prefere ficar no colégio depois do
final das aulas. – Brincou Santiago. Francisco riu. Pela expressão que tinha no
rosto, o Professor percebeu que o Menino estava em dúvida sobre o que fazer em
seguida. Como era um bom observador, Santiago sabia que a decisão que Francisco
tentava tomar estava relacionada à Lívia. Por isso, decidiu intervir, pondo uma
ideia em prática. Ele voltou a sua mesa, pegou a prova da Menina e se aproximou
do Menino outra vez. – Deixe-me ajuda-lo! – Disse o Professor, conseguindo a
atenção do Estudante. – Você poderia, por favor, entregar a prova de Lívia?
Facilitaria muito a minha vida. – Essa última parte foi um exagero considerado
necessário. O Menino pegou aquele papel involuntariamente e sorriu ao ver o dez
escrito em vermelho na prova da Menina. Quando voltou a olhar para o Professor,
o Menino viu o Docente indicar a porta com a cabeça. Não foram necessárias
palavras para Francisco entender o que Santiago queria dizer. O Menino, então,
guardou as coisas na bolsa de maneira apressada e saiu da sala correndo,
fazendo o Professor sorrir. Primeiro, procuraria pelo colégio. Talvez, a Menina
ainda estivesse por lá, porque o questionário era longo e bastante cansativo. Depois
de 10 minutos, ele percebeu que, infelizmente, ela já não estava mais naquele
lugar. Segundo o Porteiro, fazia uns 15 minutos que a Menina tinha saído. O
Menino, então, pediu a bicicleta do Melhor Amigo emprestada e foi atrás dela,
da Menina que estava constantemente presente em seus pensamentos e que, quando
aparecia, deixava tudo mais bonito.
– Boa sorte! – Gritaram o Porteiro e o Melhor Amigo em uníssono.
Ele sorriu preenchendo-se de esperança, esperança de que fosse corajoso o
suficiente para admitir o que sentia. A Menina morava a trinta minutos do
colégio. Ela tinha ido a pé. Mal sabia ele, mas, depois de pedalar por quase
dez minutos, o Menino estava cada vez mais próximo de onde ela estava. Era questão
de segundos até ele avistá-la. E a cada segundo que passava, seu coração ditava
o ritmo da canção, tão acelerado que era difícil acompanhá-lo. Ao vê-la, ele
parou de forma brusca, pedindo ao céu o ar emprestado para respirar e não
desistir de falar com a Menina sobre os sentimentos que até pouco tempo atrás
não entendia. Uma gota de chuva caiu em sua mão e o primeiro trovão anunciou
que o dia seria nublado. Ele olhou para cima e viu os raios do sol se
escondendo atrás das nuvens. O Menino sorriu sabendo que por trás daquele dia
cinzento, o sol ainda estava por lá, iluminando a sua vida.
– Obrigado! – Disse baixinho para o céu, respirando uma
última vez antes de chamá-la. Ele gritou para que ela escutasse. A Menina virou
assustada e quando o viu, sorriu de orelha a orelha. Outro trovão ecoou pelo
vento. A chuva começara. O Menino encostou a bicicleta emprestada em uma árvore
e correu para alcançá-la.
– Errou o caminho de casa? – Perguntou a Menina. Francisco
não sabia, mas, depois de responder o questionário, Lívia passou algum tempo
tentando escrever o que sentia por ele em um papel. Depois de várias tentativas
frustradas, a Menina decidiu que caminhar um pouco seria uma boa ideia para
despertar a criatividade. Ela não esperava, no entanto, encontra-lo debaixo
daquela chuva sem estar preparada. Sem perder mais tempo, o Menino deixou tudo
o que sentia ecoar pelo vento:
– Eu gosto de você. Gosto de
como você sempre encontra uma maneira de colocar matemática na conversa. Gosto
do seu jeito ora direto e ora não tão direto e acho divertido quando, às vezes, você não mede as
palavras que utiliza para expressar uma opinião. Gosto da maneira como você
fala do seu irmãozinho de quatro patinhas. Gosto de ouvi-la tocar piano e acho
que você deveria fazer isso mais vezes. Gosto de como você sempre arranja uma
explicação para a sua falta de habilidade nos esportes. Gosto da maneira como
você escreve e amo quando você compartilha os seus textos comigo. Gosto de como
você sempre me faz rir com o seu jeito espontâneo. – Ele parou um pouco
para respirar e tirar a chuva dos olhos. Os dois estavam ensopados e os olhos
da Menina ameaçavam transbordar. – Gosto de você por tudo isso e,
principalmente, por tudo aquilo que está nas entrelinhas.
– Parece que você gosta de mim. Muito, muito (três pontinhos) – Disse a Menina, sorrindo por completo.
– Três pontinhos?
– Nos três pontinhos cabe o infinito! – O Menino sorriu. –
Ou, se você preferir, eu posso colocar um tracinho em cima do muito, como
fazemos para identificar uma dízima periódica.
– Acho que prefiro os três pontinhos... E você? Gosta de
mim? – Perguntou o Menino, sentindo-se um pouco nervoso.
– Eu também gosto de você. Muito, muito (três pontinhos) – O Menino, então, reduziu em um passo a distância que o separava da Menina.
– Você quer me namorar, Lívia? – Perguntou o Menino, com um
sorriso enorme no rosto.
– É claro que eu quero. Quero muito, muito... – O Menino
sorriu. – Acho que você já entendeu. – Disse a Menina sorrindo.
O Menino decidiu, então, deixar a chuva
lavar todo o seu nervosismo e o vento leva-lo para longe. Ele beijou a Menina e
por um instante infinito acreditou que tudo estava onde deveria estar: os dois
juntos debaixo daquela tempestade feliz. Como a Menina já sabia, nem toda chuva
era sinônimo de dia ruim.
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