Como o texto anterior, esse não conta com a participação da Menina, do Sábio e de todos os seus amigos. É, como próprio nome já diz, um agradecimento.
Desde os meus dezesseis
– quase dezessete anos – estudar História se tornou um problema. Não só
história. Acompanhar geografia, filosofia, sociologia, português, literatura e
até minha amada matemática também passou a ser uma tarefa, muitas vezes,
angustiante. Talvez eu nem devesse utilizar o termo estudar, porque os
pensamentos obsessivos e, consequentemente, os comportamentos compulsivos não
permitiam que eu me concentrasse e avançasse no cronograma. Eu, sinceramente,
não sei de onde tirei forças para continuar no colégio naquele ano tão cruel.
Não me lembro de ter pedido a Marquinhos – Coordenador do terceiro ano na época
– para me liberar daquelas aulas tão “perigosas”. Acho que posso dizer que isso
me deixa imensamente feliz, porque, apesar de todos os desafios, eu persisti.
Continuei, no fundo, mesmo que não soubesse em 2010, acreditando que sairia
daquele espiral infeliz. Se no início do terceirão, eu perdia para o T.O.C. de
três a zero, a partir da metade do ano – talvez um pouco mais –, eu comecei a
virar aquele jogo injusto. Infelizmente, já era tarde demais para salvar meu
boletim escolar. Nenhum milagre me faria passar direto nas onze disciplinas do
ensino médio. Na verdade, as únicas matérias que não carimbaram meu passaporte
direto para final foram espanhol e redação. O resto foi um desastre. Para vocês
terem ideia, eu precisava tirar seis em história para ficar com média cinco – o
valor a ser atingido na recuperação. Façam as contas! Minha média anual foi
quatro – uma vergonha para quem quase sempre soube da importância de estudar.
Digo quase, porque quando era mais nova, até os meus dez anos – acho – estudar
não era bem o meu forte. Pense numa criança preguiçosa! Ainda bem que a
matemática apareceu na minha vida para mudar isso. Sim, digo matemática, porque
foi professor João Coutinho que me despertou a vontade de tirar boas notas. Depois disso, meu boletim só me trouxe
alegria – exceto no fatídico terceiro ano, obviamente.
Como comecei a contar anteriormente, mas me perdi em outras
histórias, quando o último ano do colégio finalmente aconteceu, eu não
conseguia estudar quase nada. Até as matérias que não se encontravam na lista
de "perigo", vez ou outra apareciam com alguma surpresa para
dificultar ainda mais meu objetivo de passar de ano. Estou mais uma vez
desviando do propósito deste desabafo. Quem já leu o conto intitulado "transtorno
obsessivo compulsivo" sabe que no final deu tudo certo. Tirei 7,2 na final
de história com a ajuda do meu irmão e passei de ano. Mais do que isso, eu fui
aprovada em ciências biológicas, consegui me formar em 2015, fiz mestrado e
hoje em dia estou terminando de cursar o doutorado. No entanto, nem tudo foram
flores.
A partir de 2018, entrei novamente em espiral. Meus
pensamentos obsessivos e meus comportamentos compulsivos ganharam força mais
uma vez. Me vi novamente em 2010 – de longe, um dos piores anos de minha – não tão longa, mas não tão curta assim – vida. Eu não queria mais tocar em nada
que fosse de outra pessoa, andar de ônibus voltou a ser um pesadelo e nada que
tocasse o chão podia encostar em mim. Lá estava eu, lavando compulsivamente as
mãos a cada contato físico que fazia. Pelo menos, dessa vez, minhas mãos não
ficaram feridas. Para complicar ainda mais minha situação, percebi que a área
em que trabalho atualmente não me faz mais feliz. Por isso, decidi tentar fazer
vestibular novamente, o que implicaria em estudar História para a prova. Eu não
sabia como enfrentaria mais essa batalha, porém estava decidida a tentar esse
novo desafio.
Depois de adiar por algum tempo essa decisão, assinei no
final de 2019 – no início de Dezembro – o “Se liga nessa história”, uma
plataforma online de ensino que oferece todas as disciplinas da parte de
humanas. Não comecei a assistir as vídeo-aulas imediatamente. Eu não sabia como
contornar meus pensamentos obsessivos até que eu ouvi da minha amiga – obrigada
Bebel – que eu só precisava pensar nas aulas como os contos que escrevo pro meu
blog. Foi o que tentei fazer. Não consegui pôr em prática essa ideia logo de
início. Na verdade, eu assisti às primeiras aulas no quarto dos meus pais – seria
mais seguro dessa maneira. Felizmente, aos pouquinhos, eu consegui me convencer
de que a maior parte da História se passa muito tempo atrás e que por isso as
palavras “proibidas” para aqueles acontecimentos já não tinham mais “poder” –
veja bem, não tente entender como funciona a lógica dos “fluidos negativos” inventados
pela minha mente criativa, não seria uma tarefa fácil.
Outro ponto fundamental para conseguir finalmente estudar
História foram as palavras do professor Walter Solla, fundador do “Se liga
nessa História”. Prof. Walter sempre diz que devemos ter cuidado ao julgar
aqueles que viveram em outras épocas – essa não é função da história. Não
estamos aqui para apontar o dedo. Devemos refletir sobre o passado para não
cometermos o mesmo erro no futuro. Essa maneira de olhar para o passado tornou a
preparação para o ENEM um desafio muito mais fácil. Posso até dizer que passei
a gostar de estudar História. Obrigada, Professor! Obrigada pelas palavras e por
ensinar de uma forma tão clara, leve e divertida! As palavras “proibidas”
perderam grande parte de sua força por conta disso. Nem precisei usar meu “purificador
de alma” tão frequentemente. Na verdade, só passei a usá-lo a partir do início
do século XX – é um tempo próximo demais para não ter mais “poder” sobre mim.
De início, precisei assistir às aulas desse período no quarto do meu irmão –
ele, na verdade, foi obrigado a assisti-las comigo. Obrigada, Victor! Não tenho
palavras pra agradecer o que significou tê-lo ao meu lado. Fico te devendo mais
essa.
Não! Fique tranquilo! A história não acaba aqui. Depois de
algumas aulas assistidas no quarto do meu irmão, decidi tentar voltar ao meu.
Não foi nada fácil. Fiquei extremamente angustiada e o desconforto que senti
foi enorme, mas eu consegui! No final, eu consegui! Que alívio! Fiquei tão orgulhosa
que divulguei meu feito a torto e a direita para quem quisesse ouvir. Hoje em
dia, estudo sozinha no meu quarto – a porta é, obviamente, mantida aberta (medida
de segurança que ainda considero indispensável para me proteger), mas ainda
assim, estou sozinha. Não é muito agradável – é verdade –, afinal fico com meu “purificador
de alma” ao lado do estojo para despoluir meus ouvidos toda vez que uma “palavra
proibida” é emitida pelas caixas de som – sim, eu deixo a tela em outra página
enquanto estudo. Por favor, desconsiderem as propriedades de propagação das
ondas sonoras. Na minha lógica distorcida, os “fluidos” não funcionam assim.
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