O Sábio assistia a um filme quando a Menina
apareceu em sua sala arrumando o vestido com as mãos. Ela fazia isso com frequência,
percebera o Sábio.
- Deus! Você me assustou. – A Menina sorriu.
- Desculpe-me! Não foi minha intenção. Você parecia querer
minha companhia... – O Sábio riu.
- Talvez eu quisesse mesmo. – A última vez que a vira fazia
tanto tempo que o Sábio achava que a Menina não voltaria.
- Você está errado. Eu não iria embora sem dizer adeus. – O
Sábio parou o filme, foi à cozinha e pegou um copo d’água. Chegou quase a
oferecê-la, mas, no último segundo, lembrou que sua Grande Amiga não estava
realmente sentada em seu sofá, mais uma vez, ajeitando o vestido.
- Não estou com sede. – Falou a Menina brincando. O Sábio
colocou a garrafa na geladeira e voltou a sentar no sofá. Ele tomou dois goles
de água, colocou o copo em cima da mesinha que ficava em frente ao sofá e pegou o controle remoto antes de olhar para a Menina.
- É um bom filme. – Disse ele apontando com o controle.
- O que o faz ser tão bom? – Perguntou a Menina, curiosa. O
Sábio ficou surpreso. Esperava que ela dissesse algo como “eu sei. É um dos
meus favoritos”. Talvez ela não fosse mesmo sua consciência, talvez fosse
alguém de seu passado. Alguém importante, talvez até inesquecível.
- O personagem principal me lembra de alguns pacientes
meus. – A Menina olhou para o diploma pendurado na parede, o Sábio era médico.
– Doce Menina, eu nunca vi um sentimento tão poderoso quanto à esperança. – O
Sábio tentava encontrar as palavras certas para explicar o que sentia. – Olhar
nos olhos de alguém e perceber que eles permanecem iluminados, mais iluminados,
se é que isso é possível, porque a esperança continua ali, viva, sussurrando
“não desista, acredite!” é tão... – Ele ainda procurava as palavras certas para
descrevê-la.
- Incrível, às vezes, até mesmo inacreditável? – A Menina
tentou ajudá-lo.
- Mais do que isso. (Continua...)
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