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Carta não entregue?!

Carta que escrevi para Eduardo, meu primeiro amor, mas que nunca entreguei.

Te escrevi umas poucas palavras

Elas dizem mais ou menos o seguinte...

O Vento me disse uma vez que era capaz de escutar meus suspiros madrugada adentro - suspiros daqueles que nos escapam quando gostamos de certo alguém. Eu argumentei dizendo que a interpretação estava errada, mas o Vento - ouvinte desde que o mundo se entende por mundo e colecionador de histórias mais antigo - sabia muito sobre as pessoas.
Outro dia, enquanto levava resquícios de poeira do passado para descansar em outros quintais, escutei-o deixar uma mensagem sussurrada pela janela que cantava “a vida é muito curta e o medo (?), o medo, ele paralisa”. Tentei chama-lo de volta, gritei para o Vento, tentando entender o que ele queria dizer com tudo aquilo, mas ele, passageiro do jeito que é, já estava a quilômetros de distância. Fechei a janela. Sentei no chão encostada a parede, enquanto a janela fazia dançar a luz que o sol trazia. Coisa de nuvem transiente que, sem querer, escondia o sol pelo caminho.
Enquanto o tempo passava, transformando a noite em dia, mil palavras se passavam pela minha cabeça, tentando me dizer o que eu deveria te dizer. Eu fiz o que pude para tirá-las da minha cabeça, mas as palavras são insistentes demais para deixar um coração em paz. Batalha perdida. Deixei o chão e sentei na cadeira. Peguei um papel e comecei a escrever.
“Não tenha medo”, repeti mil vezes para ver se o medo se assustava e ia deixar trêmulas outras mãos. Ele não foi. Acho que todos aqueles sinais (ou seriam sintomas? Nunca sei a diferença) me preparavam para mais uma batalha (efeito luta e fuga do sistema nervoso autônomo). Ridículo, né? Mas eu nunca fui muito (ou simplesmente boa) em olhar nos olhos de alguém e dizer o que sentia. Sempre me pareceu errado. Mas não é! Errado é sufocar um “eu gosto de você” por medo. Porque, infelizmente, repetir em voz alta para o vento ou em silêncio para mim mesma não faz verdade, mentiras inúteis...
E eu gosto de você e, por mais que eu tente dizer para os outros que não é verdade, que não o vejo dessa maneira, eu não consigo tirar o sorriso do rosto quando penso em você e em suas besteiras de sempre. Não consigo controlar o descompasso do meu coração quando te vejo do outro lado da rua. Você tem esse jeito esquisito que eu adoro e que me rouba risadas quase sempre. É uma caixinha de surpresas que ultrapassa minha imaginação. É cada coisa que a gente aprende com o outro...
Eu sei que você foge de se apaixonar, que tem um medo inexplicável do que se envolver de verdade pode trazer. E eu te entendo, porque, honestamente, eu tenho o mesmo medo. Já perdi as contas de quantas vezes remendei meu coração. De quantas vezes, ele passou um tempo sem querer nada com ninguém. Falei incontáveis vezes que estava na hora de aposentar esse tipo de sentimento, que amar era uma bobagem. Só machucava. Mas bobagem mesmo é repetir isso em alto e bom som. Pobre vento. Imagine como deve ter sido doloroso escutar isso tantas vezes, sabendo que, na verdade, só não vale a pena o que a pena não pôde escrever em seu livro de histórias.
Talvez essa história, a pena ainda não possa escrever em suas páginas em branco, porque o medo, até aqui pelo menos, me fez desistir, no último segundo, todas às vezes que eu pensei em te entregar esta carta. Ele sempre faz de mim a protagonista de uma dessas comédias românticas, que vão até a casa do menino, mas, ao invés de tocarem a campainha ou baterem na porta, param a um suspiro de distância e desistem. Desistem do sim ou do não. Desistem do fim ou do começo. Desistem das lágrimas ou dos sorrisos. Desistem dos ombros amigos ou do abraço que é o melhor lugar do mundo. Desistem do nó na garganta ou do “nós dois juntinhos”... Por que você não pode ser o protagonista que abre a porta no último segundo? Seria mais fácil não ter saída do que ter a coragem de dizer olhando nos seus olhos (que contam histórias) o que eu senti até aqui? Espero que essa carta chegue a você, mas, se não chegar, não sei o que (e se) o futuro me (nos) espera...

Até o amanhã - se o amanhã existir para nosso nó de dois!

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