“A Menina e o Sábio - Melhor momento”
Sentado
no sofá, o Sábio assistia um filme antigo na televisão quando a Menina apareceu
em pé atrás dele. Ele se assustou.
-
Doce Menina! – Disse pondo a mão no coração. – Que susto! Veio me fazer
companhia?
-
Sempre – Respondeu a Menina, animada, sentando ao seu lado.
-
Estava mesmo com saudade de sua companhia. Como anda o outro lado? – Perguntou
o Sábio, brincando. A Menina sorriu.
- O
outro lado? Se eu contar, perderá a graça. – Respondeu a Menina, entrando na
brincadeira.
-
Justo. – Sorriu o Sábio, timidamente.
-
Então quer dizer que eu sou o melhor momento do seu dia? – Brincou a Menina.
- Ah,
Doce Menina, você não faz ideia! Acho que sorrio mais desde que nos conhecemos.
– Confessou o Sábio.
-
Também acho que o Sábio sorri mais nos últimos anos. – O Sábio voltou a sorrir.
-
Agradeço minha Pequena Grande Amiga. – A Menina pôs a mão esquerda em cima da
mão do Sábio e, pela primeira vez, ele pôde sentir o toque miúdo da sua Grande
Amiga. O Sábio se assustou, então sorriu, deixando uma lágrima escapar. – Doce
Menina... – Ele enxugou suas lágrimas e tentou se recompor.
-
Sabe qual era meu momento preferido do dia? O melhor momento? – Disse a Menina.
O Sábio agradeceu mentalmente pela ajuda da amiga e esperou que ela voltasse a
falar. – Quando eu chegava à sala de aula, ou ao parque, ou ao píer, ou a
qualquer outro lugar e encontrava nos olhos dele, do Menino, um sorriso que me
dizia o que as palavras, às vezes, não alcançavam. Então, ele sorria com os
lábios e terminava de me dizer, ali, naquele sorriso, o que os olhos começaram
a sussurrar para mim em um idioma que só o coração entendia. – Por alguma
razão, o Sábio lembrou-se dos olhos assustadoramente claros de Lívia e do que
sentia quando o verde dos seus olhos, claro demais para ser verde, encontrava
seus olhos esverdeados, cor da água do mar, cor com sabor salgado. Era a mesma sensação que a Menina tinha ao
olhar para o Menino, alguém que o Sábio achava que não conhecia. Os dois
permaneceram em silêncio até o dia virar noite. Então, a Menina foi embora,
deixando o Amigo com seus pensamentos e lembranças, borradas demais para formar
uma imagem real de Lívia.
Comentários