“A Menina e o Sábio – O observador”
O Sábio saiu de casa para caminhar. O mar era lindo àquela
hora da manhã e a areia ainda não queimava os pés. Por isso, ele decidiu que molhar
os pés era uma boa ideia para começar o dia.
- Sabe, Doce Menina, me admira a beleza que tem o mar... –
Começou o Sábio. A Menina ainda não chegara, mas ele sabia, ele sentia que ela
viria.
- É bem bonito mesmo. – A Menina respondeu, andando ao seu
lado. O Sábio sorriu. – Você enxerga além? – Perguntou ela animada. O vento não
puxava seus cabelos para longe da água, deixando-a triste. A Menina não poderia
sentir o sal do mar em seus pés. Não poderia molhar sua roupa ou seus cabelos.
Nem lavar o rosto. Ela imaginava como seria incrível sentir o sal incomodar os
olhos. Era inexplicável como ela não sabia que sentiria saudade de certas
coisas. – Nunca pensei que sentiria falta disso. – Falou a Menina para si
mesma. O Sábio não escutou. Estava encantado com a imensidão do mar. – Você
enxerga além? – Perguntou ela mais uma vez.
- Se enxergo além? Além do horizonte? – Quis saber seu
Grande Amigo. A Menina riu.
- Não. – respondeu ela, tirando fios de cabelos dos seus
olhos. - O que você enxerga ao observar o mar?
- O mar? – Ele pensou o tempo necessário para respirar
duas, no máximo, três vezes. – Vejo o último suspiro do vento sobre o oceano
antes de viajar para outros ares. Vejo o passado indo embora para mais
longe de onde aconteceu. Vejo pequenas partículas de poeira que flutuam
sobre essas águas sendo levadas pelo vento. Vejo a calmaria da
superfície, acalmando corações acelerados... - Respondeu o Sábio. Ele até então
não sabia que enxergava tudo aquilo. - E você? O que enxerga, minha Pequena
Grande Amiga? – Perguntou o Sábio, curioso.
- Eu? – A Menina abriu um sorriso de orelha a orelha. Ela
fechou os olhos e parou de andar por todo o tempo que transbordou suas
percepções. A Menina deixou-se sentir - Vejo a confusão da vida encoberta pela
água. Vejo a mistura do colorido das espécies no trânsito das correntes
marinhas. Vejo amizades inesperadas ocorrendo embaixo da água. Vejo mais do que
posso descrever, mais do que as palavras podem alcançar. Vejo o caos de a vida
acontecer. – A Menina abriu os olhos e tudo parou por um momento. Parou para
que ela pudesse sorrir. Parou para que pudesse finalmente respirar depois de
preencher seu coração com tudo aquilo que fazia parte de um tempo distante.
Parou para que ela pudesse se sentir viva novamente.
- Doce Menina, você está chorando? – Surpresa, a Menina
tocou suas bochechas com as mãos, sentindo-se mais feliz do que se sentia há
muito tempo.
- Acho que estou feliz. – respondeu ela. – Calmaria e
confusão. O mar é realmente poético. – O Sábio riu e assentiu.
- Ele certamente é. – O Sábio então tentou molhar a Menina,
sem sucesso. Ela não estava ali, no final do dia. Mas, a Menina não se
entristeceu, ela gargalhou, juntando-se ao Sábio na tentativa de molhar um ao
outro.
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