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Homeostasia

Things change, doesn't mean the get better - Gregory House

Não faz parte da história da Menina e do Sábio. É outra Menina. Esse conto que escrevi é inspirado em uma aula da minha amiga Tassinha sobre interação fármaco-nutriente e em uma consulta com meu psiquiatra José Waldo.

– Sabe o porquê de você estar deprimida, jovem Menina? – Perguntou o psiquiatra, enfatizando a palavra “porquê”? A Menina chorava e, já sem voz, preferiu esperar que ele voltasse a falar. – Porque aqui – O médico apontou para sua cabeça – Porque você precisa de tempo para se acostumar ao presente. Precisa entender que o passado foi embora e que ele, por mais doloroso que seja admitir, talvez não volte para se tornar futuro. – A Menina enxugou mais uma vez as lágrimas. Elas não obedeciam a suas ordens e continuavam transbordando através de seus olhos. – O passado tornou-se tão diário que quando parou de aparecer todas as manhãs, deixou um vazio, deixou a parte emocional da razão sem energia. – Apesar de falar de maneira metafórica, o médico sabia que a Menina entendia. Ela amava poesia. – A emoção precisa agora adaptar–se, adequar–se ao presente, só assim ela voltará a caminhar em equilíbrio, fazendo você sorrir novamente. E, por mais que os outros queiram ajudar, só o tempo pode dizer quanto tempo ele precisa para pôr as coisas no lugar.
– O tempo do tempo... – Falou a Menina, baixinho, tão baixinho que parecia invenção da cabeça dele.
– ...Da adaptação, da procura pela homeostase. – Continuou ele. – Voltar ao equilíbrio pode ser um processo longo. Sabe por quê? – Ele não obteve resposta, seguindo com seu raciocínio – Porque se a constante foi embora, é estranho para emoção não voltar a vê–la, a tê–la. Não é possível ignorar uma mudança brusca, fingindo que ela não existe, que ela não está ali. – O médico segurava uma caneta na mão direita e fazia, sem perceber, pontos no bloco de papel que estava em cima da mesa. – Por isso, sofremos, choramos, gritamos. Para que a transição entre o passado e o presente possa ser feita. Para que o presente adapte–se ao novo, interagindo com constantes novas ou até mesmo com aquelas outras antigas, redistribuindo as funções entre elas. – O psiquiatra chamou a atenção da jovem paciente dizendo: – Doce Menina, depois que as interações forem restabelecidas ou que novas forem formadas, a dor irá embora, deixando apenas a saudade saudável.

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